O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse
não descartar a possibilidade de que o apagão energético, que afetou a cerca de
29 milhões de brasileiros em quase todo o país nesta terça-feira (15), tenha
sido intencional.
“Na medida em que [ainda] não há uma explicação técnica,
objetiva, demonstrada, se abre um cardápio de possibilidades. Entre as quais, a
de ação humana. E aí você tem outras duas derivações [desta possibilidade]: [ou
a] ação humana [se houve, foi] intencional ou, eventualmente, [foi causada] por
negligência, imperícia ou imprudência”, declarou o ministro, nesta quinta-feira
(17), ao ser questionado por jornalistas durante uma coletiva de imprensa, no
Ministério da Justiça, em Brasília.
Dino afirmou ter agido por “cautela” ao solicitar que a
Polícia Federal (PF) investigue os motivos que provocaram a interrupção do
fornecimento de energia elétrica para 25 estados, mais o Distrito Federal. A
única unidade federativa a não ser afetada pelo problema foi Roraima, que não
está conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
“Recebi uma demanda do ministro Alexandre Silveira [de Minas
e Energia]. Uma demanda formal. E o que o ministro [Silveira] diz é que, até
agora, os órgãos técnicos não deram explicação clara, nítida, sobre o que
ocorreu”, justificou-se Dino. “Então, a medida de cautela, de prudência, é a
que adotei: transformar o ofício do ministro [Silveira] em uma determinação
para que a PF proceda a investigação dos graves fatos”.
Nesta quarta-feira (16) em suas redes sociais, o ministro
Flávio Dino já tinha sustentado ser “prudente” proceder uma “análise mais
ampla, inclusive quanto à possibilidade de atos ilícitos”. Segundo ele, a
investigação é necessária, considerando a “ausência de elementos técnicos que
expliquem o que aconteceu”.
“Já vivemos, este ano, múltiplas tentativas de sabotagem no
fornecimento de energia elétrica no país. Já houve múltiplos eventos
documentados. Tentativa de derrubar torre de transmissão, de incendiar torres
de transmissão em várias partes do país. Não sabemos [se esta pode ser mais uma
destas tentativas] e não me permito afirmar isso, mas no terreno das
possibilidades, eu diria que sim, que pode sim ser fruto de alguma ação humana
intencional ou não”, disse o ministro Flávio Dino, durante a coletiva de hoje.
Na noite desta quarta-feira, o Ministério de Minas e Energia
e a Eletrobras divulgaram, em seus respectivos sites, notas em que atribuem o
início do problema a uma “atuação indevida” que, segundo análise preliminar,
causou o desligamento da linha de transmissão 500 kV Quixadá II / Fortaleza. “O
ocorrido desencadeou uma série de ações que amplificaram os impactos a toda a
sociedade brasileira”, acrescentou o ministério, explicando que a interrupção
do fluxo de energia no Ceará gerou uma reação em cadeia no sistema.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) também divulgou
uma nota ontem à noite, atribuindo à “atuação incorreta” o desligamento da
mesma linha de transmissão no Ceará, mas acrescentou que, isoladamente, o
“primeiro evento da ocorrência não causaria o impacto visto no Sistema
Integrado Nacional e este é um ponto que ainda está sendo apurado”.
A Agência Brasil consultou o Ministério de Minas e Energia, o
ONS e a Eletrobras para esclarecimento sobre como ocorreu a atuação indevida ou
incorreta, mas não recebeu retorno até a publicação da reportagem.