Ele é suspeito de ter ordenado operações de blitz para dificultar o trânsito de eleitores de Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022. O ministro do STF Alexandre de Moraes considerou a prisão preventiva necessária para evitar que Silvinei intimide testemunhas durante a investigação do caso.
A Polícia Federal prendeu o ex-diretor-geral da Polícia
Rodoviária Federal no governo Jair Bolsonaro. Silvinei Vasques é suspeito de
ter tentado dificultar o trânsito de eleitores de Lula no segundo turno das
eleições.
Silvinei Vasques foi preso por prazo indefinido na manhã
desta quarta-feira (9), em São José, na Grande Florianópolis, por determinação
do ministro do STF - Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que atendeu
a um pedido da PF.
A Polícia Federal também apreendeu celulares, computador e
passaporte de Silvinei, e cumpriu dez mandados de busca e apreensão contra sete
ex-dirigentes da PRF - todos suspensos a partir desta quarta-feira por dois
meses. Eles são investigados por suspeita de tentar interferir no resultado do
segundo turno das eleições a mando de Silvinei Vasques.
De acordo com a PF, integrantes da Polícia Rodoviária Federal
montaram fiscalizações nas estradas para dificultar a circulação de eleitores
no dia 30 de outubro de 2022. As operações ocorreram em grande parte no
Nordeste, onde o então candidato Lula tinha vencido no primeiro turno e liderava
com folga nas pesquisas de intenção de voto.
Um relatório do Ministério da Justiça mostrou que a PRF fiscalizou mais de 2 mil ônibus na região. Um número muito acima do ocorrido nas outras regiões.

O arquivo foi recuperado por peritos da Polícia Federal. Em abril,
ela confirmou à PF, em depoimento, ter feito a planilha e disse que o material
foi produzido a pedido do então ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson
Torres. Marilia Alencar deve ser ouvida novamente pela PF nesta sexta-feira
(11).
Mapeamento das cidades onde Lula teve mais de 75% de votos no
1º turno encontrado nos celulares de policiais rodoviários — Foto:
Reprodução/Globo
Mapeamento das cidades onde Lula teve mais de 75% de votos no
1º turno encontrado nos celulares de policiais rodoviários
Mapeamento das cidades onde Lula teve mais de 75% de votos no
1º turno encontrado nos celulares de policiais rodoviários
Os investigadores também suspeitam que a orientação de
Silvinei para as blitzes no Nordeste foi passada em uma reunião no dia 19 de
outubro, entre o primeiro e o segundo turno. Segundo a PF, há relatos de que,
no encontro, Silvinei Vasques teria dito que “havia chegado a hora da PRF tomar
lado na disputa” e que o então diretor-geral pediu o engajamento dos presentes
nas operações de 30 de outubro - data do segundo turno - especialmente no
Nordeste.
Na reunião, não foram permitidos celulares. Mas participantes
trocaram mensagens depois, relatando o conteúdo da conversa e a preocupação com
o direcionamento de ações da PRF para ajudar Jair Bolsonaro na eleição.
Em uma mensagem sobre o encontro obtida pelos investigadores,
o policial rodoviário Adiel Pereira Alcântara, então coordenador de Análise de
Inteligência da corporação, relata a um colega que o então diretor geral da PRF
teria determinado um policiamento direcionado nas cidades do Nordeste.
Para evitar versões combinadas, Alexandre de Moraes
determinou que a PF colhesse ao mesmo tempo o depoimento de 47 policiais
rodoviários que estavam nessa reunião, o que ocorreu ao longo do dia.
Silvinei Vasques foi transferido de Florianópolis para Brasília
no meio da tarde pela Polícia Federal e será ouvido nesta quinta-feira (10)
pelo delegado que preside o inquérito. Ele vai passar a noite desta
quarta-feira (9) na Polícia Federal e na quinta (10) deve transferido para a
Penitenciária da Papuda.
No pedido de prisão, a Polícia Federal afirmou que “um
diretor-geral de uma instituição policial de Estado atuar de forma a determinar
um policiamento direcionado e mencionar que a instituição deveria escolher um
lado, indica uma atuação como Polícia de Governo, colocando interesses sociais
e políticos acima dos interesses da sociedade, o que é inadmissível em um
Estado Democrático de Direito”; e que as ações “não constituíram um ato isolado
com o mero intuito de vitimar a lisura do Sistema Eleitoral Brasileiro, mas
foram uma parte de um conjunto de atos que se iniciaram ainda em 2019 com a
divulgação de fake news e notícias não lastreadas, com o objetivo de
desacreditar o Processo Eleitoral Brasileiro, culminando com os notórios atos
antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023”.
O ministro Alexandre de Moraes concordou com os argumentos da
PF e afirmou que “a conduta de Silvinei Vasques revela-se ilícita e gravíssima,
pois são apontados elementos indicativos do uso irregular da máquina pública
com objetivo de interferir no processo eleitoral”; e que “a manutenção do
investigado em liberdade pode vir a comprometer a eficácia das diligências, já
que, ainda que aposentado, é muito provável que haja uma reverência de tais
policiais rodoviários federais àquele diretor-geral que os indicou para as
respectivas funções”.
De acordo com a Polícia Federal, os investigados podem responder por crimes como prevaricação e violência política.
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal disse que foram abertos
três processos administrativos disciplinares, no âmbito da PRF, para apurar a
conduta do ex-diretor-geral.
Na quarta-feira (9), à CPI dos Atos Golpistas, Anderson
Torres negou interferência no segundo turno.
Silvinei Vasques também negou à CPI ter usado a PRF para interferir nas eleições. A defesa disse que vai recorrer da prisão. Silvinei já é réu por uso indevido do cargo ao pedir em uma rede social votos para a reeleição do então presidente Jair Bolsonaro.