Um abaixo-assinado contra a indicação já conta com quase 20 mil assinaturas (por-Caroline Oliveira)
Ex-ministro Ricardo Salles usou a expressão "passar a boiada" para se referir às normas que Lula pretende revogar - Twitter/Ricardo SallesA possível indicação do Partido Liberal (PL) do deputado federal bolsonarista Ricardo Salles para presidir a Comissão de Meio Ambiente (CMA) da Câmara dos Deputados foi alvo de críticas nas redes sociais, nesta terça-feira (7). Ele deixou o cargo do ministro do Meio Ambiente em 2021, após ser alvo de investigações de favorecimento a madeireiros no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nas redes, um link para um abaixo-assinado contra a indicação já conta com quase 20 mil assinaturas. "Os líderes de governo devem lembrar que a pauta ambiental não está em negociação e que não podemos ter um inimigo do meio ambiente liderando as decisões sobre o tema na Câmara dos Deputados", dizem os responsáveis pelo documento.
No Twitter, usando a hashtag #SallesNão, o perfil do Observatório do Clima se pronunciou, classificando o ex-ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro como "ecocida". O perfil listou uma série de motivos para que Salles não seja nomeado para o cargo, como a condenação em primeira instância por fraude ambiental em São Paulo e a perseguição a servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O Observatório também cita o aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a paralisação do Fundo Amazônia, o menor valor em multas ambientais em duas décadas durante sua gestão, investigação da PF por tráfico de madeira e mais oito crimes, 56 mil quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia e no Cerrado e a invasão, destruição e genocídio na Terra Indígena Yanomami.
Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório afirmou que é "bizarro" imaginar Salles na comissão. "Ele poderia ser presidente da comissão de desmatamento, de grilagem de terra, de destruição ambiental, de madeira ilegal, mas de meio ambiente não", disse.
"Nós estamos falando de um sujeito que foi acusado pela PF de nove crimes ambientais, incluindo facilitação de compra de madeira ilegal. Ele é responsável por boa parte de toda essa tragédia ambiental que o país vive, incluindo a situação do Yanomami."
Na mesma linha, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) escreveu que "para início de conversa, Salles deveria estar respondendo por diversos crimes: contra os Yanomami, por tráfico de madeira ilegal e até obstrução de Justiça. Esse sujeito não pode ser presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara. Lutaremos até o fim para impedir".
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) publicou em seu perfil no Twitter que "é, no mínimo, um absurdo a indicação de Ricardo Salles para a presidência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara por parte do PL. É a raposa tomando conta do galinheiro. Não podemos permitir o ex-ministro do 'passar a boiada' em uma Comissão tão importante".
O atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, entendeu como "desastrosa" a possível indicação de Salles para o cargo. O professor da Universidade de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) também afirmou que a decisão é "uma afronta à sociedade brasileira".
Após a repercussão negativa sobre a possível indicação, Salles disse ao Estão que é "novato" no Congresso Nacional e que não pretende presidir a comissão. Por enquanto, afirmou que precisa "aprender como as coisas funcionam".
Edição: Thalita Pires