Personagens como o filho 04 do ex-presidente Bolsonaro, Gabriel Monteiro e “Mamãe Falei” revelam a falsa moralidade sexual do campo ultraconservador
POR MARCELO HAILER
Nesta segunda-feira (9), o nome de Renan Bolsonaro voltou a figurar entre os principais assuntos das redes sociais. O motivo? Prints que mostram trocas de mensagens amorosas entre ele e Diego Pupe.
Durante entrevista ao jornalista Leo Dias, Jair Renan afirmou que Diego Pupe teria pego o seu celular enquanto dormia e forjado a troca de mensagens. Também afirmou que o seu aparelho não possuía senha, argumento risível por se tratar do aparelho telefônico do filho do ex-presidente da República.
Mas o que importa para nós são os não ditos e alguns ditos por Renan Bolsonaro durante a entrevista: a reafirmação de sua heterossexualidade e a responsabilização do governo Lula pelo escrutínio de sua vida sexual.
Além disso, cabe análise semiótica de Renan Bolsonaro entrevistado: corte de cabelo no estilo militar, sem franja caída sobre a testa, a roupa sisuda toda em preto e o gesticular muito semelhante ao de seu pai.
Além da questão estética programada para reafirmar a sua heterossexualidade, chama atenção que, a partir do momento em que Leo Dias traz os prints e afirma que eles foram lavrados em cartório, Renan passa a ficar com a voz trêmula e, em determinados momentos, parece aflito e segura um possível choro.
Enquadramento na "ideologia de gênero"
Muita gente afirma que a orientação sexual de Renan Bolsonaro não interessa e que isso é uma questão de foro privado, mas não é bem assim, visto que estamos diante de um grupo político que usa de uma falsa moralidade sexual para atacar políticos e pessoas do campo da esquerda e progressista.
Trazer a questão da orientação sexual de Renan Bolsonaro para o debate público faz todo sentido, principalmente quando pegamos as suas falas finais na entrevista, em que atribui ao governo Lula o fato de sua sexualidade ser questionada e faz uma divisão de campo: "nós das direita" e "eles da esquerda".
Daí que retomamos a questão estética de Renan Bolsonaro para reafirmar a sua heterossexualidade: ao abandonar o seu personagem com franja caída sobre o rosto, o 04 está enquadrado na verdadeira "ideologia de gênero" tão alardeada pela extrema direita.
Ou seja, se há uma "ideologia de gênero" existente na sociedade brasileira, ela é a radical eliminação de qualquer possibilidade fora da vida heterossexual. Para permanecer em seu campo político, Renan Bolsonaro não pode tornar pública a sua homossexualidade ou bissexualidade.
Mais: os ditos, mas principalmente os não ditos de Renan Bolsonaro, revelam a falsa moralidade sexual que estrutura a extrema direita e nos remete a outros personagens do campo do bolsonarismo e da extrema direita que defendem a "moralidade sexual hétera", mas que caíram justamente por não praticá-la. Lembremo-nos de alguns deles.
Gabriel Monteiro e "Mamãe Falei": a ruína sexual da extrema direita
A Globoplay recém lançou o documentário “Gabriel Monteiro: Herói Fake”, que nos remete à famigerada história do vereador carioca de extrema direita que ganhou fama montado nos discursos de segurança pública e da moralidade sexual.
Revisitar a trajetória de Gabriel Monteiro é didático para entender o fenômeno em seu conjunto e compreender a falsa moralidade sexual que se esconde por trás do discurso de ataque da chamada “ideologia de gênero”, ou seja, de defesa da família heterossexual.
Somos novamente confrontados com os depoimentos dos ex-assessores de Gabriel Monteiro que o denunciaram. Em suas revelações, eles contam os assédios sexuais - contra homens e mulheres - e a predileção de ex-vereadores por menores de idade. Hoje, Monteiro está preso pelo estupro de uma estudante de 23 anos.
Na seara paulista, temos o caso do ex-deputado estadual Arthur do Val, que ganhou fama com o personagem "Mamãe Falei". O mesmo roteiro: ganhou notoriedade com o discurso de extrema direita calcado na segurança pública, contra a corrupção e em defesa da família tradicional.
Arthur do Val não está preso, mas teve o seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar após deplorar as mulheres refugiadas ucranianas. "Elas são fáceis porque são pobres", declarou Mamãe Falei ao viajar para a Ucrânia.
A falsa moralidade sexual e a família inexistente.
As histórias de Renan Bolsonaro, Gabriel Monteiro e Arthur do Val, mas a lista poderia ser bem maior - nos mostram que a extrema direita vive sob um tipo masculino imaginado para conquistar corações e mentes, e votos, claro.
No entanto, a masculinidade política utilizada pela extrema direita no século XXI nada mais é do que o velho homem de vida dupla: no espaço público em defesa da família monogâmica e da heterossexualidade, nos bastidores, longe dos olhos do público de Deus, “tudo é permitido”.
É neste contexto de ataques aos direitos das mulheres, LGBT+ e outras minorias sociais - que servem para esconder a falsa moralidade sexual - que o escrutínio da vida sexual de certos personagens do conservadorismo deve ser compreendido.
Neste sentido, sim, a orientação sexual, os ditos e não ditos de Renan Bolsonaro, mas também de outros personagens, não só são do interesse público, como também servem para desmontar uma ideologia nefasta que prega o ódio e a eliminação das diferenças.
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