Crítico dos métodos usados na Lava Jato, o juiz federal
Eduardo Appio, que foi responsável pela operação, afirma, em livro, que os
alvos eram presos às quintas-feiras, expostos como troféus e mantidos isolados
de contato durante algum tempo para, geralmente na segunda-feira seguinte,
serem chamados a fazer uma delação.
O bastidor está no livro “Tudo por dinheiro: A ganância da
Lava Jato segundo Eduardo Appio”, de Salvio Kotter, que será lançado em 2 de
outubro.
Em um trecho, ele diz que os presos, ao chegarem à carceragem
da Polícia Federal em Curitiba (PR), eram “jogados em uma cela imunda com um
colchonete inundado em urina e pulgas”. Eles ficavam lá, sem contato
principalmente com familiares, até serem chamados para uma delação, afirma.
“Isto ocorreu em vários casos envolvendo inclusive idosas,
avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de
detalhes”, indica o juiz federal, em trecho da obra.
Em outro ponto do livro, Appio é citado falando do caso de
Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras e primeiro delator da Lava
Jato. O juiz diz que o ex-executivo foi privado de banho por diversos dias e
teve ameaça de processo a sua filha.
“Era uma espécie de Guantánamo [base militar americana para
julgar os acusados do 11 de Setembro]. Eu concedi um habeas corpus para Paulo
Roberto da Costa em abril de 2014 e entrei para a lista negra de inimigos da
Lava Jato”, afirma Appio.
Na avaliação dele, a operação premiou a impunidade no Brasil.
“Os corruptores [grandes empresários] saíram ilesos e impunes”, afirma.
Em maio de 2023, Appio foi afastado temporariamente da 13ª
Vara Federal por decisão da Corregedoria do TRF-4 por conta de uma ligação que
ele teria feito para o advogado João Eduardo Barreto Malucelli.
Na ligação, Appio estaria fingindo ser outra pessoa, e aparentemente tentava comprovar que falava com o filho do juiz federal Marcelo Malucelli, então relator da Lava Jato em segunda instância. Em janeiro deste ano, o caso foi arquivado.