Uma apuração do site The Intercept Brasil revelou que mais de
R$ 4 milhões arrecadados pelo empresário e ex-coach Pablo Marçal, agora
candidato a prefeito de São Paulo, destinados à construção de casas em
Camizungo, Angola, foram desviados para duas ONGs sediadas em Prata, um pequeno
município de 4 mil habitantes no sertão da Paraíba. As ONGs beneficiadas, Atos
e Centro Vida Nordeste, possuem uma ligação controversa com Zé da Banca, um
conhecido bicheiro local.
A reportagem do The Intercept visitou a cidade e constatou
que, apesar dos valores milionários, nenhuma obra significativa foi realizada,
nem em Prata, nem em Angola. Além disso, descobriu-se que a ONG Atos,
supostamente responsável pelas ações sociais na África, sequer possuía uma sede
até que a matéria fosse publicada. Já o Centro Vida Nordeste, formalmente
dirigido por Zé da Banca, nome popular de José Leandro Ferreira, é conhecido
mais por suas atividades ilegais de apostas do que por projetos sociais.
Zé da Banca, que é dono de uma casa de apostas, afirmou ao
site que sua atuação na ONG é voluntária. “Nossa vida virou um pesadelo”,
desabafou ele, referindo-se ao impacto das revelações na pequena cidade
paraibana, onde mais de 50% da população depende do Bolsa Família.
A relação entre Prata e a trama angolana surgiu através de
Itamar Vieira, pastor da Igreja Diante do Trono em Angola e amigo de Marçal.
Vieira teria convidado o ex-coach para apoiar o projeto em Angola em 2019. A
partir desse momento, Pablo Marçal promoveu diversas campanhas de doação, cujo
destino final foi parar nas contas das ONGs paraibanas.
A sede da Atos foi descrita como um cenário montado às
pressas, com materiais de construção espalhados e banners recém-impressos. Já o
Centro Vida Nordeste funciona em uma fazenda de propriedade do ex-prefeito de
Prata, João Pedro Salvador de Lima, condenado por improbidade administrativa e
envolvido em esquemas de desvio de verbas públicas.
Essas revelações geraram revolta entre os moradores de Prata, que questionam o destino dos milhões arrecadados. “Ninguém consegue acreditar que tem tanto dinheiro passando por aqui, enquanto a cidade continua enfrentando dificuldades”, declarou uma moradora local ao The Intercept Brasil.