Mais de 15 mil pessoas ficaram feridas pelo abalo sísmico de magnitude 7,8 que destruiu diversas cidades da região
Equipes de resgate procuram sobreviventes sob os escombros de um prédio que desabou após o terremoto na cidade de Aleppo, norte da Síria foto AFP
Equipes de resgate buscam desesperadamente sobreviventes sob os escombros de construções destruídas por um devastador terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o sudeste da Turquia e o norte da Síria nesta segunda-feira, deixando ao menos 3.609 mortos e mais de 15 mil feridos em uma região já assolada por uma guerra, uma crise de refugiados, problemas econômicos e temperaturas congelantes. A Organização Mundial da Saúde estimou haver o risco de o número de mortos ainda crescer oito vezes.
O tremor aconteceu às 4h17 (22h17 de domingo, no horário de Brasília) a uma profundidade de 17,9 quilômetros, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). O epicentro foi localizado no distrito de Pazarcik, na província de Kahramanmaras, no Sudeste da Turquia, a cerca de 60 km da fronteira com a Síria, deixando ao menos 2.316 mortos e mais de 13 mil feridos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou um período de sete dias de luto nacional pelas vítimas.
Também sentido no Chipre, Egito, Israel, Líbano e até na Groenlândia, este é o terremoto com o maior número de vítimas na Turquia desde 17 de agosto de 1999, que matou 17 mil. A magnitude de 7,8 é equivalente à do mais forte terremoto a atingir o país, em 1939. Dezenas de abalos secundários, incluindo um de magnitude 7,5 às 13h24 (7h24 no horário de Brasília), atingiram a região.
Na vizinha Síria, o terremoto provocou 1.293 mortes e 2.461 feridos, sendo 593 vítimas fatais e 1.403 feridos nas províncias sob controle do governo em Aleppo, Hama, Latakia e Tartus, de acordo com balanços provisórios do Ministério da Saúde sírio citado pela agência oficial de notícias Sana. Outros 700 mortos e 1.057 mil feridos foram registrados pela Defesa Civil síria, mais conhecida como Capacetes Brancos, em áreas controladas pela oposição no nordeste do país.
A Turquia também abriga 3,6 milhões de refugiados sírios, o maior total no mundo referente a esse conflito, de acordo a agência de refugiados da ONU. É muito provável que o número de mortos e feridos continue aumentando rapidamente, levando-se em conta que, só na Turquia, pelo menos 5.606 construções desabaram antes ou depois do terremoto.
O Crescente Vermelho Turco iniciou uma campanha nacional de doação de sangue para a região atingida. De acordo com o chefe da Agência de Gerenciamento de Desastre e Emergência da Turquia, Yunus Sezer, há quase 20 mil socorristas na região. Devido ao mau tempo, eles usam helicópteros e aviões para chegar às regiões atingidas.
Algumas imagens na televisão turca e nas redes sociais mostram pessoas assustadas, de pijama, vagando pela neve, enquanto observam equipes de resgate vasculhando os escombros de suas casas.
Ouvimos vozes aqui e ali. Achamos que talvez 200 pessoas estejam entre os escombros — disse uma equipe de resgate em Diyarbakir, de acordo com uma transmissão da NTV.
As equipes de resgate vasculham os destroços em cidades e vilas também na Síria em busca de soterrados. O chefe do Centro Nacional de Monitoramento Sísmico da Síria, Raed Ahmed, disse à rádio oficial que este foi, "historicamente, o maior terremoto já registrado". Em pânico, muitos moradores saíram às ruas apesar da chuva torrencial.
Mapa da área atingida — Foto: Arte O Globo
Os Capacetes Brancos disseram que a situação é "catastrófica" e pediram às organizações humanitárias internacionais para "intervir rapidamente" para ajudar a população local.
"Centenas continuam sob os escombros", disse o Capacetes Brancos no Twitter.
Tremor de madrugada
Imagens da destruição causada por terremoto que atingiu Turquia e Síria
Centenas de pessoas morreram após tremor de magnitude 7,8
O presidente turco lembrou que a força do tremor desta segunda equivaleu ao que atingiu o país em 1939, quando estimadas 33 mil pessoas morreram na província oriental de Erzincan. Ele pediu união nacional diante da tragédia.
"Esperamos sair juntos desta catástrofe, o mais rapidamente possível e com o menor dano possível", tuitou o presidente, cuja forma de lidar com essa tragédia pesará muito nas disputadas eleições de 14 de maio.
Todos estão colocando seu coração e alma nos esforços, embora o inverno, o frio e o fato de que o terremoto aconteceu durante a noite tornem as coisas mais difíceis — disse previamente a repórteres em entrevista coletiva em Ancara. — Não sabemos quantas vítimas haverá, mas os esforços estão concentrados na busca sob os escombros dos edifícios afetados na zona do terremoto.
A maioria das pessoas dormia em suas casas quando o terremoto aconteceu de madrugada.
Minha irmã e seus três filhos estão sob os escombros. Também seu marido, seu sogro e sua sogra. Sete membros da nossa família estão sob os escombros disse à AFP Muhittin Orakci, ao testemunhar as operações de resgate em frente a um prédio em ruínas em Diyarbakir.
Uma mulher, apontando para outra vítima inconsolável na mesma cidade, afirmou:
A irmã dele ainda está sob os escombros.
Aeroportos bloqueados
A região afetada fica perto Gaziantepe, cidade turca de aproximadamente 2 milhões de habitantes onde os edifícios residenciais são feitos principalmente de tijolo e concreto frágil, extremamente vulneráveis a terremotos, de acordo com o USGS.
O aeroporto de Gaziantep está permitindo apenas o pouso de aviões com ajuda de emergência, disse um funcionário. Além de sua população local, Gaziantep abriga muitos dos milhões de refugiados sírios na Turquia e é o local de uma das maiores operações realizadas pela agência de refugiados das Nações Unidas.
Segundo o vice-presidente turco, Fuat Oktay, além do aeroporto de Gaziantep, os de Hatay e Maras também foram fechados ao tráfego. A neve e as tempestades que atingiram a região impediram o tráfego em outros aeroportos, incluindo o de Diyarbakir, constatou a AFP.
Por questões de segurança, o gás foi cortado em toda a região, devido a tremores secundários que poderiam gerar explosões. O Curdistão iraquiano informou que suspenderá as exportações de petróleo através da Turquia como precaução.
Ajuda internacional
Mais cedo, o ministro do Interior turco, Suleyman Soylu, anunciou um alerta de nível 4, que inclui um pedido de ajuda internacional. Segundo Erdogan, 45 países ofereceram ajuda nos esforços de busca e resgate.
O presidente dos EUA, Joe Biden, escreveu no Twitter que estava "profundamente triste" com a perda de vidas e a devastação na Síria e na Turquia, acrescentando: "Ordenei minha equipe a continuar monitorando de perto a situação em coordenação com a Turquia e a fornecer toda e qualquer necessário assistência."
Em uma declaração conjunta, o alto representante da União Europeia (UE), Josep Borrell, e o comissário da UE para gerenciamento de crises, Janez Lenarcic, disseram que equipes foram mobilizadas da Bulgária, Croácia, República Tcheca, França, Grécia, Hungria, Malta, Holanda, Polônia e Romênia para apoiar no terreno.
A ajuda de outros países europeus e da Otan (aliança militar do Ocidente) inclui missões de busca e salvamento, profissionais de saúde, bombeiros, helicópteros, drones e outros profissionais de gestão de crises, além de ajuda humanitária.
O presidente russo, Vladimir Putin, enviou suas condolências aos líderes turco e sírio e se ofereceu para "fornecer a ajuda necessária" da Rússia após a tragédia. O país já enviou duas aeronaves e equipes de resgate.
A ajuda vem ainda de países tão distintos entre si como Azerbaijão, Índia, Vaticano e Venezuela, além de agências das Nações Unidas.
Magnitude violenta
Um terremoto de magnitude entre 7 e 7,9 é considerado de grandes proporções, podendo causar danos graves na superfície. Ao redor do mundo, há menos de 20 ocorrências do tipo ao ano, a maioria em águas profundas.
A fronteira da Turquia com a Síria, onde o desastre se deu, está localizada em uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo.
A Falha Geológica da Anatólia Oriental separa as placas tectônicas das Terras Altas da Anatólia das Planícies da Arábia e se estende até Adana, no Mediterrâneo. Ao longo dessa falha, dezenas de terremotos de até 6 graus de magnitude foram registrados durante o último século, e sete entre 6 e 7 graus, mas em um século nenhum teve a força destrutiva do desta segunda-feira.
Os maiores terremotos da Turquia ocorreram na falha de Bitlis-Zagros, que vai do Leste da Anatólia até as montanhas do Irã, e na falha do Norte da Anatólia, que corre ao longo da costa do Mar Negro e chega ao Mar de Mármara, ao Sul de Istambul .
Especialistas alertam há muito tempo que um grande terremoto poderia devastar Istambul, que permitiu construções generalizadas sem precauções.
Um terremoto de magnitude 6,8 atingiu Elazig em janeiro de 2020, matando mais de 40 pessoas. Em outubro desse mesmo ano, outro de magnitude 7,0 sacudiu o Mar Egeu, deixando 114 mortos e mais de 1.000 feridos.