Reviravolta em sucessão na Câmara abre caminho para preservar arranjo entre os dois lados
A análise e previsão é do jornalista e cientista político Bruno Boghossian na Folha de São Paulo“No início do mandato, Lula andava por aí dizendo que, para
sobreviver no Congresso, precisaria conversar “com quem não gosta da gente”. Lá
pelas tantas, o presidente chamou o centrão ao Palácio da Alvorada para um
desses papos e entregou ao grupo de Arthur Lira um par de ministérios e o
comando da Caixa.
Seria exagero dizer que o governo passou a ter vida fácil
depois do acerto. Os termos da relação, porém, se tornaram um pouco mais
previsíveis. Lula reconhece a bizarra situação em que o presidente da Câmara se
recusa a conversar com o ministro responsável pela articulação política, mas
procura navegar dentro dos limites do poder do centrão.
A reviravolta na corrida pela sucessão de Lira pode renovar
esse pacto de convivência. A entrada de um novo favorito na disputa pelo
comando da Câmara, com a articulação do governo e do centrão, abre caminho para
preservar o arranjo entre os dois lados.
Num encontro recente, Lula apresentou a Lira mais do que uma resistência discreta à candidatura de Elmar Nascimento à chefia da Câmara. O governo jamais escondeu que tinha horror ao nome do deputado, que carrega um histórico de oposição feroz ao PT e figurava como o preferido de Lira. O petista quis deixar claro que a escolha não seria recebida apenas com antipatia.
Ainda que estivesse decidido a evitar acusações de
interferência na disputa, Lula exerceu, na prática, uma prerrogativa de veto.
Em princípio, Lira não era obrigado a aceitar nenhuma interdição, mas entendeu
que a candidatura de Elmar jamais seria consensual e poderia criar uma fratura
que beneficiaria seus adversários.
A desistência de Marcos Pereira, presidente do Republicanos,
abriu caminho para o lançamento do nome de Hugo Motta, que sempre foi o plano B
de Lira. O jovem deputado cresceu na Câmara sob as asas de Eduardo Cunha e
votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, mas o governo parece enxergar
esses episódios como pecados menores.
Se a articulação vingar, Motta será o representante de um
consórcio que já tem negócios com o governo. Lula veria no comando da Câmara um
deputado menos hostil, enquanto Lira preservaria influência nessa relação.
Com informações da AGENDA DO PODER.