Integrantes dos 'kids pretos' afirmaram que ministro Alexandre de Moraes não iria querer 'mexer no vespeiro'
O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, exercer o direito de ficar em silêncio em depoimento à CPMI do 8 de janeiro — Foto: Pedro França/Agência Senado"Se alguém tiver lido nossas mensagens, vai preferir
fingir que não leu. Primeiro que além desse grupo existem milhares outros. Vão
mandar prender ou punir todo mundo? Na bucha eles preferem fingir que está tudo
bem, que as FA não são golpistas. (...) Mas na prática ninguém quer mais
instabilidade ainda. Imagina o AM (Alexandre de Moraes) mexendo nesse vespeiro!
Imagina dentro da própria Força essa eventual caça às bruxas!!! = apagar fogo
com gasolina", diz a mensagem enviada no grupo "Dossss!!!", do
qual o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, era
um dos administradores.
O grupo de bate-papo entrou na mira da Polícia Federal depois
que um integrante postou uma carta para pressionar o então comandante do
Exército, general Freire Gomes, a aderir ao plano golpista, no fim de 2022.
"E aí, agora todos colocaremos o nome nessa rela aí. Ou seremos leões de
Zap", postou um militar, pedindo adesões ao documento.
Apesar da pressão de outros generais e integrantes do governo
Bolsonaro, Freire Gomes se recusou a participar da trama, assim como o
comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, segundo as investigações da PF.
As mensagens de teor golpista no grupo levaram a PF a intimar
alguns de seus usuários a prestar depoimento. Um deles afirmou que o nome do
grupo se referia à última sílaba do termo "Comandos" e era formado
por cerca de 90 militares que passaram pelos batalhões das Forças Especiais,
conhecidos como "kids pretos".
Segundo a PF, pelo menos seis kids pretos foram mobilizados
para executar um plano de captura e "neutralização" do ministro do
STF Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice
Geraldo Alckmin. No grupo, um integrante chegou a perguntar se "vai ter
careca sendo arrastado por blindado em Brasília?", numa clara ameaça a
Moraes.
As informações constam de anexos do inquérito sobre a trama
golpista que foram tornados públicos nesta semana. A PF indiciou 37 pessoas por
tentativa de golpe, tentativa de abolição violenta do Estado de Direito
Democrático e organização criminosa.
Da Redação