Em sua última aparição pública, Jair Bolsonaro não só admitiu
a inelegibilidade e voltou a falar de um eventual mandado de prisão contra si.
Teve mais. O ex-presidente também defendeu os seguidores golpistas de sua
seita, responsável pelos atos terroristas do dia 8 de janeiro.
O problema é que, para agravar a situação, o ex-presidente
usou uma tese que vem sendo difundida na internet pela extrema-direita, grupo
político que lidera. A mentira é seguinte: a de que o quebra-quebra já tinha
sido feito quando bolsonaristas chegaram no Palácio do Planalto, no Supremo e
no Congresso.
“Todas as informações que temos – inclusive em vídeo – são a de que o pessoal
de dentro [estava] esperando o pessoal chegar com tudo quebrado já. No dia
seguinte, quase duas mil pessoas acusadas de terrorismo. Terrorista que não foi
encontrado com um canivete sequer. Golpistas que não tinham articulado com
tropa, não tinham comandantes”, mentiu o ex-presidente.
Pressionado por apoiadores, Bolsonaro tem buscado alguma
forma de sinalizar apoio aos presos daquele dia que entrou para história pela
infâmia. O ex-mandatário sabe que arou a terra e fez de tudo para que o 8 de
janeiro – ou uma tentativa de golpe – fosse possível no Brasil.
Agora, em uma situação na qual pode acabar responsabilizado –
e deveria ser, na opinião da coluna -, o ex-presidente tenta achar uma forma de
defender o indefensável (ou propagar essa fakenews) para tentar ao menos dar uma
satisfação ao seu eleitorado.
Bolsonaro fez política como presidente defendendo ideias
antidemocráticas. Imitando a extrema-direita ao redor do mundo, instou a
violência contra os outros poderes constituídos, rasgando a constituição que
jurou defender.
Hoje, sem as proteções do cargo e há 75 dias como um civil
sem mandato, pode ver as reações das instituições serem maiores do que aquelas
notas de repúdio das quais ria, ainda como presidente.