Por-Carlos José Marques
(Crédito: Montagem sobre foto time e Jorge William)
Por que estamos sempre às voltas com discussões débeis?
Resposta simples: porque o mandatário, que comanda esse País diretamente da
cadeira do Planalto (de maneira infeliz), é dado a fazer da ignorância a
profissão de fé. Uma arma para o seu desgoverno. Impossível listar tantas
ignomínias geradas por esse capitão. Mas passa de qualquer limite do razoável o
negacionismo atávico que insiste em promover contra a imunização. Bolsonaro já
virou piada mundial, motivo de chacota, mesmo entre líderes globais e veículos
de comunicação internacionais, quando insinuou que os vacinados poderiam virar
jacaré. A aberração era, por si só, tão grotesca que foi encarada com desprezo.
Tida como pitoresca, risível e digna de brincadeiras. Mas agora ele subiu um
patamar, o da demência mesmo, com ilações absurdas sobre os efeitos clínicos
colaterais, capazes de gerar dúvidas na população menos informada, insinuando
serem as vacinas contra a Covid – que, aliás, ele nem tomou (ou diz que não) –
passíveis de provocar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (a temida AIDS).
Como foi capaz de proferir tamanho despautério, distorcendo, mais uma vez,
dados e veiculando mentiras tão graves? Vindo de quem veio, não há grandes
surpresas. Mas o mandatário não pode ser encarado simplesmente como um mero
moleque inconsequente. Não na posição que ocupa. Ele tem de ser contido. Aquele
que debocha da vida dos semelhantes e conspira para o avanço da doença, por
ações e omissões, estará sempre – pode acreditar! – trabalhando em causas
inomináveis como essa, e passou da hora de as instituições lhe aplicarem um
corretivo, dando um basta a tanta insensatez. As redes sociais independentes
tomaram as próprias medidas. Facebook, Instagram e YouTube tiraram do ar o
vídeo alegórico no qual ele profanava a imunização vinculando-a a AIDS. Mas não
é o suficiente. Bolsonaro, o delinquente psicopata que vive a levantar calúnias
contra a Ciência, converteu-se no maestro brasileiro das fake news e ancora
nelas sua política de governo. Como um País pode suportar tanto obscurantismo?
É hediondo imaginar até onde podem ir as suas pretensões. Ele deseja, por
exemplo, transformar o Brasil em um antro das mentiras onde as pessoas, imersas
nessa realidade paralela, sejam manipuladas ao seu bel prazer para a
concretização do objetivo maior de instaurar um regime autocrático no qual
comande absoluto. Com a torneira de asneiras que abre rotineiramente para
desviar o foco dos esquemas arquitetados rumo ao aparelhamento do poder há um
método de gestão milimetricamente calculado. Bolsonaro quer abolir o
conhecimento do mapa nacional. Não há dúvida. Mergulhar o País nas trevas da imbecilidade.
Nesse sentido desmontou e revirou de cabeça para baixo o sistema educacional.
Implodiu com a Cultura. Almeja censurar livros que não sigam a sua cartilha de
retrocessos. Ataca célebres docentes, a exemplo do professor Paulo Freire,
reconhecido como o patrono da Educação e considerado o brasileiro com o maior
número de títulos de Doutor Honoris Causa do mundo (com 35 honrarias
universitárias), enquanto saúda notórios torturadores, que vilipendiavam o
pensamento, como o general dos porões da ditadura, Carlos Brilhante Ustra. O
fundamentalismo tacanho e alienador é a base da estratégia bolsonarista,
martelado como instrumento de controle. Ao afrontar, mais uma vez, o sistema
vacinal, Bolsonaro tenta ridicularizar os esforços da medicina, que tanto combateu.
Como sempre, ele precisa se mostrar senhor das narrativas. Com a sua falsa e
caricata live, onde fazia a associação das vacinas com o HIV, o presidente
colocou em dúvida, efetivamente, o próprio PNI tocado pela pasta da Saúde. Como
profeta do deboche que é, não parece se importar com os efeitos colaterais ou
consequências dos seus atos, mesmo diante de uma tragédia que já ceifou mais de
600 mil vidas. Na rede de ódio que o cerca, por incrível que pareça, seguidores
tentaram dar base e argumentos a sua tese, denotando até onde podem ir os
alienados fanáticos dessa seita. Na prática, não estamos falando de liberdade
de expressão, muito menos de pontos de vista discordantes. A ilação
presidencial é a mais pura e cristalina exibição de um crime contra a saúde
pública. Fruto decorrente da ignorância sem limites. Não há mais como aceitar
um comportamento tão nefasto. A comunicação do presidente sofre de um vício de
origem chamado mentira. No “cercadinho”, onde é aplaudido pelos incautos, pode
até fazer sucesso. Mas a vergonha que promove do Brasil a nível mundial, com
tantas tolices, é incalculável. No estágio raso do método de emburrecimento
coletivo que adotou, a escolaridade de cada um logo, logo, será desprezível por
aqui. Ainda bem que existe esperança da reviravolta. Os dias do capitão no
controle podem estar contados e, cedo ou tarde, a sensatez prevalecerá
novamente. Temos de acreditar.