Baiana acusa presidente de divulgar tratamento precoce mesmo sem comprovação. Ela enfrenta sequelas da doença.Se ganhar pretende doar valor para combater a pandemia em sua cidade.
Foto: SERGIO LIMA/AFP via Getty Images)
A advogada Manuela Menezes, de 34 anos, entrou com uma ação
na Justiça Federal da Bahia para ser indenizada pelo o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) em mais de meio milhão de reais. Ela o acusa de ter
divulgado o “tratamento precoce” contra o novo coronavírus, mesmo sem eficácia
comprovada cientificamente.
A baiana foi diagnosticada com covid-19 duas vezes em 2021.
Ela precisou ser internada e, no hospital, foi tratada com azitromicina e
ivermectina, fármacos que compõem o chamado “kit covid”, que foi muito
divulgado por Bolsonaro. Segundo ela, o médico que a atendeu citou o presidente
da República para convencê-la a tomar os remédios.
Agora, ela apresenta sequelas da infecção pelo coronavírus,
incluindo queda de cabelo e perda de memória. Ela quer R$ 571 mil da União. A
ação será julgada na 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia (SJBA).
“Tenho problemas psicológicos e físicos. Estou tomando medicamentos
devido às sequelas que tive da Covid e um dos efeitos colaterais é estar
proibida de dirigir. São remédios para pessoas que têm acima de 70 anos, para
memória”, conta a advogada ao portal Metrópoles.
“Estou passando
situações vexatórias no meu trabalho. Tenho dores de cabeça diariamente. Não
consigo nem mais pentear meu cabelo com rabo de cavalo, pois meu cabelo cai
muito deste então, tenho vários buracos. Cheguei ao ponto de pensar se foi bom
ter sobrevivido à covid; se isso é uma benção ou uma maldição. O que espero de
um governante é que ele seja responsabilizado. Queria que as autoridades
tivessem mais atenção aos sobreviventes do vírus”, desabafou Manuela.
A advogada tomou azitromicina, ivermectina, decadron,
unizinco e addera. “Saliente-se que a autora recebeu tratamento considerado
pela própria fabricante do remédio como ineficaz ao resultado esperado contra a
Covid-19. A despeito dessa ineficácia, a autora confiou no procedimento médico,
uma vez que o profissional se dizia conhecedor da confiabilidade do tratamento,
e, ainda, usando como argumento de reforço para fins de convencimento, os
discursos do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a viabilidade
daqueles remédios os quais estava prescrevendo”, afirma seu advogado, Lucas
Correia de Lima, na ação.
“O kit de medicamentos imposto à autora, que, desconhecedora de expertise médica, foi submetida a tratamento precoce à revelia das nefastas consequências, não surtiu efeito de prevenção ou cura à Covid-19. Prova disso é que a autora foi infectada novamente pela moléstia”, completa.
Ainda de acordo com a ação, a vida de Manuela foi usada como
aposta por Bolsonaro. “Os problemas apresentados pela Autora não se traduzem
como resultado de uma enfermidade banal, mas produto das ações irresponsáveis
de gestão governamental em um país que fez pouco caso e deu parca atenção aos
cuidados da pandemia, deixando de proteger seus cidadãos e contribuindo, com
discursos e atos, para a proliferação dos casos”.
A advogada afirma que, caso ganhe, irá destinar o valor para
fundos de Saúde de seu município, Feira de Santana, e do estado da Bahia, com
foco no combate à covid-19.