Ex-presidente, que ainda não tem presença confirmada no governo, vem tendo destaque na série de solenidades (Por Luã Marinatto)
Dilma em dois momentos: ao discursar em cerimônia na AGU e ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, na posse de Paulo Pimenta Arte sobre fotos de divulgaçãoO retorno de Dilma Rousseff a Brasília, desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva — na qual ganhou posição de destaque, foi aplaudida e ouviu até pedidos de selfie —, vem ganhando contornos de uma dramática volta por cima. Após sofrer o impeachment, em 2016, e amargar as dores do ostracismo e da baixa popularidade, a ex-presidente tornou-se, nos últimos dois dias, uma das figuras mais presentes nas cerimônias que empossaram o novo Ministério. Mais do que isso: bastava Dilma dar as caras para que as solenidades virassem uma espécie de ato informal de desagravo à petista, com direito a palmas efusivas, abraços e discursos emocionados, além de defesas enfáticas do que foi citado como um legado deixado pela primeira mulher a governar o país.
A sua presença aqui neste ato, como a senhora foi recebida, é uma reparação histórica das injustiças que a senhora sofreu — frisou Alexandre Padilha ao ser empossado, na última segunda-feira, na presença de Dilma, como ministro das Relações Institucionais. A petista foi ovacionada no evento, enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, acabou vaiado pelos presentes.
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Posses aconteceram em 2003, 2007, 2011, 2015, 2019 e 2023
Nesta terça, Paulo Pimenta seguiu o mesmo caminho ao assumir oficialmente a Secretaria de Comunicação Social (Secom). Ao discursar, o petista saudou Dilma na plateia, mais uma vez sob aplausos, e afirmou que ela foi vítima de uma “injustiça histórica”. Já na posse de Esther Dweck como ministra de Gestão, no mesmo dia, coube à própria ex-presidente ir ao microfone, momento no qual não escondeu a emoção recente:
Eu fiquei muito comovida. Nós entramos no Palácio do Planalto depois de seis anos — reconheceu, antes de prometer: — Ainda não fomos ao Alvorada, mas um dia vamos entrar para matar a saudade.
Dilma ficou emocionada ao discursar na posse de Jorge Messias na AGU — Foto: Renato Menezes/AscomAGU
Dilma também foi convidada a discursar na posse de Jorge Messias na Advocacia-Geral da União. Durante a gestão da petista, Messias chefiou a Secretaria de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência da República, período marcado pelo episódio “Bessias”, quando um diálogo dela com Lula foi captado e tornado público pelo então juiz Sergio Moro, em 2015. Com a voz embargada, Dilma chamou o novo advogado-geral da União de “meu querido” e “amigo” e ensaiou até uma sutil mea-culpa:
Os erros são meus, mas eu agradeço ao Messias por ter me ajudado a acertar.
A imagem de Dilma foi lembrada até em solenidades às quais ela não compareceu. Ao assumir o Itamaraty, em cerimônia realizada simultaneamente à posse de Messias, o chanceler Mauro Vieira, que ocupou o mesmo posto com a ex-presidente, recordou o “doloroso processo de impeachment, que deixou marcas”.
Não é comum que nos seja dada uma segunda oportunidade de fazer algo que foi bruscamente interrompido — pontuou Vieira.
Dilma ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante a posse de Paulo Pimenta — Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Sem destino definido
Mesmo em alta entre os correligionários, porém, Dilma ainda não tem presença confirmada no governo. Como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, integrantes do PT cogitaram colocar a ex-presidente para chefiar uma embaixada em Portugal ou na Argentina. Contudo, embora o partido não admita publicamente, existe o receio de que a escolha gerasse desgaste ou até acabasse barrada no Senado, a quem cabe avalizar este tipo de nomeação.
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Outra alternativa seria indicar Dilma para uma estatal de peso ou um órgão multilateral, sem necessidade de passar pelo Congresso. Neste caso, no entanto, precisa ser levado em conta também o custo político, sobretudo devido à conturbada herança econômica deixada pela petista, que foi amplamente explorada por adversários de Lula durante a corrida presidencial.
Com o destino indefinido, a petista, por ora, segue curtindo o reencontro com a boa fama. No retorno de Brasília para o Rio, na noite desta terça-feira, ela voltou a ser aplaudida no avião e acenou ao ouvir o coro: “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma”.