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 Após detecção de primeiro foco da doença em granja comercial no Brasil, dúvidas aparecem: comer ovos e frango é seguro? Qual o risco para a população? Especialistas respondem

Trabalhador examina aves em busca de sinais de infecção por gripe aviária em granja. — Foto: CHAIDEER MAHYUDDIN / AFP

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, nesta semana, o primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil. Desde que o vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) foi detectado no país em maio de 2023, os registros estavam restritos a aves silvestres. O novo caso foi identificado em Montenegro, município do Rio Grande do Sul.

A ocorrência motivou a aplicação imediata de medidas previstas no Plano de Contingência Nacional para Influenza Aviária, incluindo o abate das aves do plantel afetado e a adoção de protocolos sanitários para evitar a disseminação do vírus. Segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do estado (Seapi), a suspeita foi atendida no último dia 12. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas (SP), que confirmou a infecção.

Transmissão entre humanos ainda é rara, mas preocupa

Apesar do potencial letal do vírus, com taxa de mortalidade próxima de 50% em humanos infectados, os casos em pessoas continuam sendo esporádicos. A virologista Helena Lage, da Universidade de São Paulo (USP), explica que o risco atual para a população brasileira é muito baixo:

— A transmissão para os humanos é esporádica e ocorre principalmente pelo contato de pessoas que têm ocupação no manuseio, no contato com esses animais, que têm um risco moderado. Mas para a população geral esse risco é muito baixo.

A médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, destaca que o vírus ainda não está adaptado ao organismo humano:

— Nós não somos bons para esse vírus, não temos receptores para ele. Então primeiro teria que haver um contato maior entre o humano e as aves (…). O vírus precisaria de mutações para poder ser transmitido de pessoa para pessoa.

Rosana ressalta, no entanto, que o risco de mutação aumenta com a circulação entre espécies, especialmente em casos de coinfecção com vírus humanos, como o H1N1. Por isso, recomenda-se que trabalhadores em granjas utilizem equipamentos de proteção, e que pessoas com sintomas gripais e contato com aves doentes procurem atendimento.

— Um caso de coinfecção de gripe aviária com H1N1 (…) é um risco porque a mesma pessoa com esses dois vírus pode funcionar como um “laboratório” para que eles se combinem e criem pequenas mutações — alerta a médica.

Consumo de frango e ovos continua seguro

De acordo com o Mapa, não há risco de contaminação pelo consumo de carne de frango ou ovos. O vírus não é transmitido pela ingestão de alimentos, principalmente se forem bem cozidos. Além disso, o foco identificado envolve aves matrizes, usadas para reprodução, e não destinadas diretamente ao consumo humano.

— Não há risco no consumo nem de frango nem de ovos, a transmissão através da ingesta é extremamente rara e depende de uma manipulação inadequada, um cozimento inadequado, algo muito difícil de acontecer — reforça Rosana Richtmann.

Expansão entre espécies aumenta alerta global

A variante H5N1 do vírus tem se espalhado por diversas espécies desde 2022, alcançando mamíferos como leões-marinhos na América do Sul, furões na Europa e, recentemente, vacas leiteiras nos Estados Unidos. Neste último caso, já foram registrados mais de mil rebanhos infectados em 17 estados, além de 70 casos em humanos.

Nos EUA, um estudo do Departamento de Agricultura apontou que a disseminação entre o gado começou a partir de uma ave silvestre infectada. O Brasil, por ora, não tem registros de contaminação em mamíferos, mas a vigilância foi reforçada.

Ações de contenção no Brasil

Após a confirmação do caso em Montenegro, as autoridades isolaram a área afetada e iniciaram o protocolo de saneamento da granja. Também está sendo conduzida uma investigação em um raio de 10 km para verificar possíveis vínculos com outras propriedades. Há ainda a análise de um foco suspeito no Zoológico de Sapucaia do Sul, que foi fechado preventivamente.

Além disso, o Mapa comunicou oficialmente o caso à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), aos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e aos parceiros comerciais do Brasil. As ações incluem também vigilância contínua de aves silvestres, treinamento de técnicos, educação sanitária e controle em fronteiras.

Vacinas em desenvolvimento e prevenção

Embora a vacina contra gripe humana não ofereça proteção contra a gripe aviária, especialistas recomendam sua aplicação como medida preventiva, especialmente para reduzir o risco de coinfecção. A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo, esclarece:

— A versão do vírus Influenza não é a mesma. As cepas da gripe aviária ainda são muito restritas às aves e têm diferenças para a da Influenza humana, que é o alvo da vacina.

Nos Estados Unidos e na Europa, vacinas específicas contra a gripe aviária já estão aprovadas para uso emergencial, mas ainda não são aplicadas ao público geral. A Finlândia, no entanto, iniciou a vacinação de trabalhadores em contato com animais ainda em 2023.

No Brasil, nenhuma vacina está atualmente autorizada pela Anvisa, mas o Instituto Butantan desenvolve um imunizante que poderá abastecer um estoque estratégico. Segundo o Ministério da Saúde, a capacidade de produção será de 30 milhões de doses por ano, e os testes clínicos devem começar em breve.

— Quando acontecer a transmissão entre humanos e de forma sustentada teremos um problema grande, como foi com o surto de H1N1, que ficou conhecido como gripe suína (…). Por isso, existem essas estratégias para bloquear com rapidez o vírus caso isso aconteça — afirma Flávia.

Enquanto isso, autoridades reforçam a importância da biosseguridade nas granjas e da vigilância constante para conter o avanço do vírus. O objetivo é impedir que o surto comercial isolado evolua para uma ameaça maior à saúde pública e à cadeia produtiva da avicultura brasileira.

Da Redação  Com Informação da

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