Em áudios obtidos pela Polícia Federal (PF) e divulgados pelo portal G1 nesta quarta-feira (14), o policial federal Wladimir Passos revela ter integrado uma equipe de operações especiais que estaria pronta para prender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e agir com violência para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023. Segundo ele, o plano não foi executado porque o então presidente Jair Bolsonaro “deu para trás”.
Wladimir é alvo de investigação da Procuradoria-Geral da
República (PGR) por sua suposta participação na organização criminosa que
tentou abolir, com o uso da força, o Estado Democrático de Direito após as
eleições de 2022. Ele foi preso preventivamente e teve celulares e equipamentos
eletrônicos apreendidos durante operação da PF. Os investigadores afirmam que
há indícios de que ele tenha atuado ativamente no planejamento de um golpe de
Estado.
Os áudios foram colhidos durante a apuração da PF e revelam
que Wladimir se dizia parte de um grupo com “poder de fogo elevado” que
aguardava apenas uma ordem de Bolsonaro para agir. Em uma das gravações, ele
afirma: “A gente tava preparado para isso, inclusive. Para ir prender o
Alexandre de Moraes. Eu ia estar na equipe, ia botar pra f** nesse f***,
mas não é assim.”*
Em outro trecho, o policial relata a frustração da equipe com
o recuo do então presidente: “A gente tava pronto, só que aí o
presidente… Esperávamos só o ok do presidente, uma canetada para a gente agir.
Só que o presidente deu para trás.”
Disposição para o uso de violência
Além das intenções de prisão de autoridades, os áudios também
evidenciam a disposição do grupo para o uso de violência extrema. “A
gente ia com muita vontade, ia empurrar meio mundo de gente, pô, matar meio
mundo de gente. Não ia estar nem aí”, diz Wladimir em uma das
mensagens.
O agente também demonstra decepção com os generais do
Exército, acusando-os de terem “se vendido” após negociações com o governo
Lula. “Na realidade, o PT pagou para eles, comprou esses generais”, afirmou,
sugerindo que o recuo das Forças Armadas inviabilizou a ação golpista.
Contatos dentro da Polícia Federal
Perícias realizadas nos dispositivos apreendidos mostraram
que Wladimir mantinha conversas com outros integrantes da Polícia Federal. Em
uma delas, ele lamenta o recuo de Bolsonaro e, ao ser questionado por um
delegado sobre o que isso significava, respondeu: “Vai fugir.”
Em outra mensagem, enviada a um delegado que chefiava uma
delegacia da PF, Wladimir sugere sua inclusão em uma equipe caso houvesse a
prisão de ministros do STF. O delegado responde por escrito: “Grande
Wladimir! Estaremos eu e você.”
Clima de frustração e arrependimento
Nas mensagens, o policial expressa desespero com a vitória de
Lula e admite ter chorado durante a posse do petista. “Minha vontade
era chorar, meu estômago todo embrulhado. A vontade era chorar só”, afirma.
Wladimir também faz previsões catastróficas sobre o futuro do
país, dizendo que “a Amazônia será vendida” e que os caminhoneiros que foram
multados por bloqueios de estradas continuariam sendo penalizados.
Fim dos acampamentos e derrota reconhecida
Outro áudio revela que o policial acreditava que o movimento
golpista havia sido “legitimado” antes mesmo da posse de Lula. Segundo ele, o
Exército iniciou a desmobilização dos acampamentos em frente ao QG do Exército
em Brasília, pedindo que as famílias deixassem o local para evitar confrontos.
“O Exército já está começando a tomar medidas, bloquear as
vias, e não é porque querem que acabe, não. É porque a manifestação já
legitimou,” afirmou.
As declarações de Wladimir integram o conjunto de provas analisado pela PF no inquérito que apura os atos antidemocráticos de 2022. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal já tornou réus sete outros investigados por envolvimento na tentativa de golpe.