Atitude considerada ‘agressiva’ com jornalista trouxe tema incômodo ao presidente para o centro das discussões eleitorais; misoginia foi um dos termos mais buscados no Google
por-Lucas Israel
Bolsonaro (Reprodução/YouTube)
A derrapada do presidente Jair Bolsonaro (PL) no debate da TV Bandeirantes no último domingo, 28, trouxe a pauta das mulheres de volta ao centro das atenções e das inevitáveis polêmicas.
Com o desempenho do atual mandatário junto ao eleitorado feminino nas pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto considerado preocupante, a cúpula da campanha bolsonarista colocou em cena a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e também apostou em uma série de medidas focadas nas eleitoras, como projetos de incentivo ao empreendedorismo, por exemplo.
Segundo pesquisa do Datafolha, 50% das mulheres rejeita votar no presidente. Segundo dados de outra pesquisa, desta vez do Ipec, antigo Ibope, Bolsonaro tem apenas 29% das intenções de voto no eleitorado feminino, enquanto Lula (PT), seu principal rival, acumula 45%.
E a avaliação do comando de campanha de Bolsonaro era de que tudo ia a contento até o presidente se portar de forma considerada um tanto agressiva com a jornalista Vera Magalhães e com as adversárias de urna Simone Tebet e Soraya Thronicke (União Brasil).
O desgaste ficou evidenciado nas redes sociais. Segundo o Google, na noite de domingo o Google Trends, ferramenta da empresa que mede as pesquisas feitas pelo buscador, registrou um pico de buscas pela palavra “misoginia”. Segundo o dicionário Aurélio, "misoginia" significa “sentimento de repulsa e/ou aversão às mulheres”.
Como vacina, Michelle voltou aos holofotes, desta vez ocupando um programa inteiro em nome do marido. O problema preocupa porque Bolsonaro, em segundo nas pesquisas, precisa furar a bolha de seu eleitorado ideológico e ampliar a margem de adesão a seu nome.
Segundo a psicóloga rio-pretense Karina Younan, a atitude de Bolsonaro “traduz o pensamento do homem conservador machista, católico". “O debate mostra tudo que o homem conservador tem dificuldade de se adaptar, embora eles (candidatos) já estejam bem cientes. Bolsonaro já pediu desculpas. Eles estão bem conscientes de que a parcela de voto feminina não pode ser desprezada. O debate mostrou claramente que ainda existe essa cisão entre o conservador e os novos tempos”, afirma ela, que se posiciona como direita na régua ideológica.
Ele é assim
A vereadora de Rio Preto Karina Caroline, do Republicanos, partido que apoia Bolsonaro, afirma que o estilo do candidato do PL já é conhecido e aceito. “Quem conhece o Bolsonaro sabe o que ele pensa. Esse é o jeito dele, desagradável, grosso, mas ele é assim com homem e mulher. Mas não posso dizer que não houve avanços na defesa da mulher”, diz.
Mais alinhada a defesas de centro/esquerda, a psicóloga Mara Madureira destacou que a fala agressiva do presidente deixa implícita uma característica autoritária. “Ele tem uma fala extremamente agressiva. É como se a mulher não tivesse direito de ter ideias, de ter espaços”, afirma. “Outro ponto é a relação conflitante com as mulheres, uma vez que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, é escalada justamente para abraçar as pautas ligadas às mulheres. Enquanto presidente da República, ele aceita todas as pautas propostas pela primeira-dama. Você percebe claramente que tem o trabalho dela na inclusão, porque esse é o papel dela. É um governo que aceita isso para tentar minimizar a imagem pública dessa relação transtornada com as mulheres. Essa relação é conflitante, porque é incrível o quanto que ele debocha, o quanto agride e faz isso espontaneamente”, diz Mara.
A ex-vereadora Regina Chueire também lembra que as pautas das mulheres, em teoria, são mais ligadas à esquerda. “Ele quis atacar a mulher, só que assim ele vai perder o voto feminino. Só não vai perder o voto daquele eleitorado mais conservador”, afirma.