Medida já havia sido anunciada na véspera; Brasil deve ser um dos países mais impactados
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou nesta segunda-feira (10) a taxação de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio ao país.
A medida já havia sido anunciada pelo republicano na véspera,
em fala com repórteres no avião presidencial Air Force One. Trump disse que
anunciará tarifas recíprocas na terça (11) ou quarta-feira (12), para entrarem
em vigor quase imediatamente.
“Nossa nação precisa que o aço e o alumínio permaneçam na
América, não em terras estrangeiras. Precisamos criar para proteger o futuro
ressurgimento da manufatura e produção dos EUA, algo que não se vê há muitas
décadas”, disse Trump.
“Este é o primeiro de muitos. E você sabe o que quero dizer
com isso? Outros assuntos, tópicos, proteger nossas indústrias de aço e
alumínio é essencial. Simplificando: nossas tarifas sobre aço e
alumínio, para que todos possam entender exatamente o que é: 25%, sem exceções.
E isso vale para todos os países, não importa de onde venha.“
Trump mencionou que as empresas têm a opção de estabelecer
filiais e trazer a produção para dentro dos EUA, o que lhes garantiria tarifa
zero.
Trump também afirmou que, nos próximos dois dias, anunciará
tarifas recíprocas para outros países, e que está considerando novas taxas
sobre carros, chips semicondutores e produtos farmacêuticos.
“Vamos trazer de volta as indústrias, e vamos trazer de volta
nossos empregos, e vamos tornar a indústria americana grande novamente”, disse
Trump.
O Brasil deve ser impacto pelas medidas dos EUA. O país
é o segundo maior fornecedor de aço e ferro aos norte-americanos e nunca
teve uma participação tão grande no mercado.
Em 2024, americanos compraram US$ 4,677 bilhões (cerca
de R$ 27 bilhões) em produtos brasileiros do conjunto de “Aço e Ferro”.
Em 2024, o Brasil foi o vendedor de 14,9% de
todo o grupo que inclui aço e ferro como matéria-prima. Nunca o Brasil teve uma
participação tão grande naquele mercado.
No chamado “código 72” do sistema harmonizado de mercadorias
estão os produtos semimanufaturados de ferro ou aço, além do ferro fundido
bruto. Esses itens respondem por boa parte das exportações siderúrgicas aos
EUA.
O Brasil ficou atrás apenas do Canadá,
que respondeu por 24,2% daquele mercado. Depois do Brasil,
estão México (10,1%), Coreia do Sul (5,9%)
e Alemanha (4,6%).
O Brasil é relevante para os EUA como fornecedor de aço e
ferro – com cerca de um quinto do mercado, mas os americanos
são ainda mais importantes para os brasileiros.
Dados do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento,
mostram que os EUA foram destino de 47,9% das exportações do
grupo de aço e ferro em 2024. Nenhum outro cliente é tão essencial para
as siderúrgicas brasileiras como os americanos.
O segundo maior comprador do Brasil é
a China, mas a fatia é bem menor: 10,7% dos
embarques de aço e ferro.
À espera de definições
Até o momento, o governo brasileiro não se manifestou
oficialmente sobre a decisão dos EUA.
Mais cedo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que iria
aguardar a definição dos norte-americanos.
“Vamos aguardar ainda essa questão da taxação. Da outra vez
que isso foi feito, teve cotas, então vamos aguardar. Nossa disposição é sempre
a de colaboração, parceria em benefício das nossas populações”, disse Alckmin a
jornalistas após visita à fábrica da Bionovis, em Valinhos (SP).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também seguiu no
mesmo sentido e evitou falar sobre a decisão.
“O governo tomou a decisão de só se manifestar,
oportunamente, com base em decisões concretas e não em anúncios que podem ser
mal interpretados. O governo vai aguardar a decisão oficialmente, antes de
qualquer manifestação”, disse Haddad a jornalistas.
Brasil deve buscar novos mercados
A tarifação dos Estados Unidos na compra de aço e alumínio
forçaria o Brasil a ter que diversificar
o mercado de exportações, principalmente com a queda da demanda da China,
segundo especialistas consultados pela CNN.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, explica
que as tarifas afetaram o mercado de aço além da redução de exportações.
“Mesmo que o Brasil focasse na China para compensar as
exportações dos EUA, não iria ser capaz de preencher a diferença, já que a
China tem desacelerado sua demanda pelo material nos últimos anos.”
As exportações chinesas de itens classificados como “ferro
fundido, ferro e aço” vêm desacelerando desde 2020, quando atingiu o patamar de
US$ 2,12 bilhões, segundo dados Mdic.
Marcela Franzoni, professora de Relações Internacionais do
Ibmec-SP, ressalta que diversificação pode ser difícil de se efetivar no curto
prazo.
“Existe toda uma estrutura produtiva que está focada. Analisando o mercado de um país destino para as exportações, ainda é mais complexo achar um substituto pela depreciação do preço do aço.”
Da Redação