Academia Paraibana de Letras, no Centro Histórico de João Pessoa (Foto: Revista NORDESTE)
A Revista NORDESTE apresenta na edição de Nº 176 matéria especial sobre os 80 anos da Academia Paraibana de Letras (APL). Em texto é assinado pelo jornalista José Nunes, o veículo apresenta o contexto histórico da APL desde a sua fundação em 14 de setembro de 1941, sob inspiração do Professor Coriolano de Medeiros.
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80 anos da APL
De Coriolano de Medeiros até o século XXI: a inteligência se
mantém na vanguarda
Por JOSÉ NUNES
A Academia Paraibana de Letras foi criada no dia 14 de
setembro de 1941, sob inspiração do Professor Coriolano de Medeiros que em
convite para a reunião de intelectuais para discutir na Biblioteca Pública do
Estado, na antiga Rua Nova, a qual compareceu 11 escritores e jornalistas.
Foram eles: Coriolano de Medeiros, Cônego Mathias Freire, Horário de Almeida,
Luiz Pinto, Rocha Barreto, Álvaro de Carvalho, Durval Albuquerque, Veiga
Júnior, Celso Mariz e Hortêncio Ribeiro, que se fez representar. Ao final,
assinaram a ata que instituiu a APL.80.
Sob inspiração da Academia Francesa de Letras, onde havia
desde o século 18, no ano de 1897 é instalada a Academia Brasileira de Letras
com sede no Rio de Janeiro, então Capital Federal e, no decorrer dos anos,
foram criadas congêneres pelos Estados até que, em 1941, finalmente, foi criada
na Paraíba. Começou com 11 cadeiras, passou para trinta e, em 1959, a reforma
do estatuto elevou para 40, como continua atualmente.
Depois de seis anos funcionando na Biblioteca Pública e na
casa do Padre Mathias Freire, a Academia ganhou sede. No ano de 1947, o
prefeito da Capital, Abelardo Jurema, doou à APL prêmio na Rua Visconde de
Pelotas. Com a aquisição de casarão à Rua Duque de Caxias, foi definitivamente
instalada onde se encontra atualmente e, em 1981, o governador Tarcísio Burity
desapropriou casa vizinha, possibilitando sua ampliação.
A APL foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Geográfico do Estado da Paraíba (IHPAEP), através do Decreto n° 8.643, de 26 de
agosto de 1980, publicado no Diário Oficial de 5 de setembro do mesmo ano.
Tem uma biblioteca com centenas de livros, um mobiliário de
incomensurável valor histórico, conta com o Museu Poeta Augusto dos Anjos
instalado por Luís Augusto Crispim e ampliado nas gestões de Gonzaga Rodrigues
e Damião Cavalcanti.
O presidente Manuel Batista de Medeiros recuperou o prédio,
renovou o auditório e instalou o Jardim Academos, onde são perpetuados com
bustos alguns imortais.
Outros presidentes, que se destacaram estão Oscar de Castro,
Clóvis dos Santos Lima, Afonso Pereira, Higino Brito, Aurélio Albuquerque,
Juarez Farias, Gonzaga Rodrigues, Damião Ramos e, a atual presidente,
Professora Ângela Bezerra de Castro, a qual coordenada as festividades de sua
fundação.
As comemorações
Os 80 anos da Academia foram comemorados na extensão da
parceria e do bom relacionamento cultural com a Fundação Joaquim Nabuco, do
Recife.
Ângela lembrou que a parceria com a Fundação, destacada
Instituição guardiã da cultura do Nordeste e brasileira, protagonizou um gesto
que constitui um marco simbólico, tanto para os indivíduos, quanto para as
instituições. “Representa uma vitoriosa linha de chegada, pelo que implicam de
luta e de resistência no longo percurso. Pelo que representam de acúmulo, como
saldo de todos os desafios ultrapassados”, comentou.
Ela ressaltou que a criação da APL como “um sonho de
intelectuais visionários que, através dos tempos, se consolidou na solida
Instituição de Utilidade Pública, reconhecida por sua positiva e valiosa
interferência na cena cultural da Paraíba”. A professora acrescentou: “o que me
parece justo destacar, na existência da APL, é o idealismo dos que a mantiveram
até aqui, motivados pelos objetivos que cumpre alcançar. Cultivar, preservar e
divulgar a cultura, um compromisso que une gerações de ontem, de agora e
sempre, pois não existe limite fixado para o termino dessa construção coletiva.
Um patrimônio de valor incalculável, para que o futuro não seja desprovido de
raízes e de memória”. Lembrou pedaços de seu discurso de posse, quando
ressaltou ser a “Academia é a casa de meus mestres”, e citou, sem ordem de
prioridade, Oscar de Castro, Flósculo da Nóbrega, Clóvis dos Santos Lima, o
padre Luiz Gonzaga de Oliveira e Juarez Batista, como referências de
imortalidade.
Atenta a herança dos ensinamentos destes, a presidente da APL
lembra que seria impossível imaginar que as comemorações dos 80 anos da
Academia seriam na sua presidência, na mesma Cadeira ocupada durante 25 anos
pelo tio Oscar de Castro. “Não por vaidade ou ilusão de poder. Mas por
devotamento, para que não morresse o espírito acadêmico”, disse “Na figura
ímpar do mestre Oscar de Castro reverencio todos os acadêmicos do presente e do
passado, nesta data histórica. A identidade da APL é o somatório da expressão
intelectual de cada um”, acenou.
Celebrando a Memória Cultural
O ciclo de palestras “Celebração da Memória Cultural”,
promovido conjuntamente entre a Academia e Fundação, aconteceu entre os dias 23
e 24 de setembro, em transmitido pelo canal da Fundação no Youtube. As
conferências e intervenções tiveram a seguinte programação:
Dia 23 de setembro de 2021, na abertura teve o lançamento das
celebrações dos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, pelo presidente da
FUNDAJ, Antônio Campos; pela presidente da APL, Ângela Bezerra de Castro; e
pelo diretor da DIMECA/FUNDAJ, Mário Hélio Gomes.
Na sequência da programação, aconteceram as conferências
proferidas por integrantes da APL. A conferência do jornalista e cronista Luiz
Gonzaga Rodrigues sobre “O Governo cultural de Tarcísio Burity”. Prosseguindo à
tarde, a professora Ângela Bezerra de Castro proferiu palestra sobre “Juarez da
Gama Batista – Erudição e ousadia no ensaio literário”; seguindo da conferência
do poeta e escritor Luiz Nunes Alves (conhecido pelo pseudônimo Severino
Sertanejo), abordando o “Sebastianismo – Morte e sangue em Pedra do Reino”.
Depois foi a vez do professor Milton Marques Junior, falar sobre “Augusto dos
Anjos – Teleologia sem princípios”.
No segundo dia das comemorações, o poeta Sergio de Castro
Pinto abordou a trajetória do poeta Marcos Tavares, falecido no começo de 2021,
com a conferência “Marcos Tavares reinventa a seriedade pela zombaria”. Em
seguida, a professora e escritora Maria das Graças Santiago abordou “Carlos
Dias Fernandes – Mitos e verdades”. O professor e historiador Francisco Sales
Gaudêncio, em outra conferência, abordou “A Cultura na obra de Celso Furtado”.
Finalmente, o jornalista e cronista Severino Ramalho Leite, presidente do IHGP,
falou sobre “Oscar de Castro, o primeiro sócio da APL”.
Como parte das comemorações dos 80 anos de fundação da APL, que se estenderão por todo o ano, terá lançamento de livros e o segundo número da Revista da Academia Paraibana de Letras, em novo formato gráfico.
As solenidades programadas pela APL e pela FUNDAJ com vistas
às comemorações dos 80 anos de sua fundação tiveram o apoio do Ministério da
Educação e do Governo Federal.
A FUNDAJ e seu presidente
O professor e escritor Antônio Campos (foto), presidente da
Fundação Joaquim Nabuco, de destacado currículo no meio acadêmico pernambucano,
revelou os laços que unem os dois Estados desde os tempos mais remotos. “A
relação entre Pernambuco, onde está sediada a Fundação Joaquim Nabuco, e a
Paraíba, que sedia esta Academia de Letras, não é recente. Para além dos
episódios históricos que partilhamos, se evocarmos a Literatura, é sabido que
fomos o solo firme para nomes e gerações que vão de Augusto dos Anjos até
Ariano Suassuna. Por isso, trazemos um sentimento familiar com essa parceria.
Sentimos que estamos em casa.”
O escritor Antônio Campos é advogado e poeta, integra a
Academia Paraibana de Letras e também a Academia de Artes e Letras de
Pernambuco e foi um dos fundadores da Festa Literária Internacional de
Pernambuco.
A professora Ângela ressaltou o gesto do escritor em fomentar
essa parceria e troca de saberes e “pela iniciativa de transformar a Fundação
Joaquim Nabuco em anfitriã do aniversário de 80 anos da APL, através da
celebração da memória cultural que agora se inicia, na palavra dos acadêmicos
conferencistas. E na interpretação de cada ilustre paraibano, por eles
escolhidos”.
Fundada em 1949, a Fundação Joaquim Nabuco é vinculada ao
Ministério da Cultura, e tem por objetivo desenvolver projetos que empreendam a
interdependência entre Educação e Cultura, integrando suas múltiplas
competências e articulando-se em redes de Conhecimento.
Opinião de acadêmicos
A presidente Ângela afirmou que a APL tem um trabalho de
preservação da memória: “É um trabalho de compromisso com a tradição. A própria
estrutura da Academia tem essa feição, pois, a cada posse, tem que trazer o
nome e as obras do antecedente, para que não seja esquecido”.
Sobre os projetos que pretende empreender até o final de seu
mandato, que termina no próximo ano, destacou: “Uma coisa é a estrutura física
da APL, outra é o espírito se voltar para o espírito da casa, Que é a cultura,
que é a recuperação das obras de acadêmicos que andam esquecidos, o que é a
maior injustiça do mundo. Minha gestão se volta para o espírito”.
Outros acadêmicos também falaram sobre o papel e a
importância da APL e dos 80 anos de sua fundação, conforme depoimento ao
repórter Guilherme Cabral, do jornal A União. O Professor Itapuan Botto Targino
segue o mesmo raciocínio da presidente Ângela. “A APL é importante porque
preserva a cultura e a memória da Paraíba, através dos acadêmicos, dos quais
alguns estão esquecidos”, disse.
Ele ressaltou como importante a iniciativa da presidente em
divulgar, numa parceria com os órgãos públicos, outros autores paraibanos nas
escolas, numa prática que a professora foi pioneira quando ainda dava seus
primeiros passos no magistério, quando levou às salas de aulas autores como
Nathanael Alves, Luís Augusto Crispim, Gonzaga Rodrigues, Juarez Batista, e
outros, para o conhecimento dos jovens estudantes.
O poeta Sérgio de Castro Pinto lembrou que Ângela é a
primeira mulher a presidir a Academia e que tem, com esforço, feito alguma
coisa. “Espero que ela retome os concursos literários nas áreas de poesia e
crônica, o que o então presidente Joacil de Brito Pereira realizou”.
As ações culturais da APL em oito décadas foram ressaltadas
com ênfase pelo acadêmico Sales Gaudêncio que destacou, especialmente, a oferta
de cursos destinados aos estudantes, a organização da ampla e rica biblioteca
aberta ao público, a publicação de periodicamente da Revista com produção
intelectual dos seus integrantes e eventuais colaboradores.
Lembrando os 50 anos
Na esteira das comemorações de datas festivas na APL, vale
recordar os 50 anos de fundação da Academia Paraibana de Letras, cujas
festividades iniciaram em julho de 1991, comandadas pelo presidente Manuel
Batista de Medeiros. Como parte das festividades, a gestão de então mandou
instalar Obelisco de Comemorações do Cinquentenário no Jardim de Academos, onde
se encontram talhado em rocha e bronze, a herma de doze paraibanos que se
destacaram com sua literatura. Medeiros lembrou que os melhoramentos foram
introduzidos nas dependências da Academia visando oferecer maior conforto ao
corpo de acadêmicos e visitantes, a exemplo do auditório, que passou a ter o
forro de madeiros e novas cadeiras.
Quem é a Presidente da APL
Natural de Bananeiras, Ângela Bezerra de Castro nasceu em 1942, cedo foi residir em Araruna com seus avôs, de onde veio morar na cidade de João Pessoa, em 1956, para cursar o Ginásio e o Clássico no Liceu Paraibano.
Muito jovem decidiu pelo Magistério, começando como
professora aos 19 anos. Ensinou em colégios particulares e públicos, atividade
que sempre exerceu. Fez a Faculdade de Direito e Letras na Universidade Federal
da Paraíba, mestrado em Licenciatura na Pontifícia Universidade Católica
(PUC-RJ) e doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
aposentada da UFPB, também foi secretária adjunta da Educação e Cultura do
Estado.
Ganhou o prêmio nacional com o estudo literário sobre o
romance “A Bagaceira”, de José Américo de Almeida. Tem estudos pelo menos sobre
50 acadêmicos e autores paraibanos.
Ela ocupa a Cadeira n° 31 da APL e, em setembro de 2020, foi
eleita para presidir a Academia com maioria absoluta, obtendo 22 votos dos 28
votos dos acadêmicos presentes à eleição. “Minha eleição foi um acontecimento
histórico, pois abri o caminho, e o sentimento que tenho é o de reconhecimento
e representa a identidade feminina na Academia da qual também fui
vice-presidente por três vezes”, disse.
Para comemorar os seus 80 anos de idade, em 2022, pretende
lançar o volume dois do livro com vários ensaios “Um certo modo de ler”,
incluindo vários autores objetos de sua análise literária. “Um deles é Oscar de
Castro, responsável por deixar as raízes da APL”, comentou.
A Academia passou 40 anos para ter uma mulher em seus
quadros, que foi Elizabeth Marinheiro, eleita no início da década de 1980. “Ela
foi pioneira e está me apoiando com grande entusiasmo”, e quase 80 anos para
ter uma mulher na sua presidência. Além de Ângela e Elizabeth, outras
escritoras que integram a APL são Maria das Graças Santiago, Pepita Cavalcanti,
Fátima Bezerra e Socorro Aragão, além de Mariana Soares e Adylia Rabelo, já
falecidas.