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   Fábio Mozart: Escritor, dramaturgo, jornalista e radialista brasileiro

Sou sócio correspondente de uma academia de letras, dessas que pipocam nas pequenas cidades. Seguem os mesmos rituais da Academia Brasileira de Letras, com seus fardões, no caso, não tão ricos e deslumbrantes, as cerimônias de posse, os discursos jubilosos dos empossados, sem o chique chá das cinco, mas com licença para cada um levar sua garrafinha de uísque. Para compor o preclaro quadro de imortais, a academia convoca o padre da freguesia, homem santo conhecedor do latim, a professora veterana autora do hino da municipalidade, o poeta craque nas letras da antiguidade greco-latina e dos clássicos nacionais, o moço compositor de letras de músicas da banda “Calcinha desbotada”, o conterrâneo famoso por sua magnificência destacada na capital, o egrégio juiz aposentado, autor de sonetos neoclássicos melífluos e a matrona respeitável, criadora do livro de versos “Pedaços de min’alma resplandecente de amor”. Outras academias estão sendo formadas em outras aldeias, pretendendo ser “um centro produtor e divulgador da cultura, das artes, da história e da memória, e um lugar para a reflexão sofisticada e complexa, livre de preconceitos de qualquer natureza, em convivência respeitosa e fraterna”. Outra instituição do tipo recebeu a excêntrica denominação de Academia Cívico Militar Literária, Artística e Científica União da Média Burguesia.

Na Academia Brasileira de Letras, cada imortal recebe mensalmente um salário no valor de R$ 3 mil mais algumas "comissões" por participarem das sessões. Quem vai ao chá da terça-feira ganha R$ 800,00. Já as reuniões de quinta garantem aos membros um "cachê" de R$ 1 mil. Nas academias interioranas, o imortal deve pagar sua anuidade para cobrir as despesas básicas da instituição, e o que sobrar sempre se investe na confraternização de fim de ano. A academia é humilde, mas o sonho é grande. Os egos infinitos e a meta é a perenidade junto com a celebridade. Para onde iremos quando morrer? Ninguém sabe. Se nem a vida concreta tem existência real, imagine a morte! O autor anônimo, o poeta esquecido quer ser imortal. Por módica quantia mensal, é possível sobreviver através dos tempos.

Para garantir minha vida perpétua na memória dos homens, criei minha própria academia. Essa artimanha me fez evitar a humilhação de ter que bajular os futuros confrades para ser eleito. É tradição nas academias o sujeito pedir votos, e para cabalar esses apoios, o candidato precisa beijar as mãos dos imortais. Monteiro Lobato vivia falando mal das academias, mas tentou entrar em 1926 na Academia Brasileira de Letras, confiante na sua carreira já consagrada de escritor. Deu com os burros n’água porque não implorou votos para a candidatura. Obteve apenas quatro votos. Depois, ele tentou novamente, mas dessa vez mandou cartas para todos os acadêmicos como “servo humílimo”. Fracassou novamente porque não teve a cortesia de ir de casa em casa, cumprimentar pessoalmente cada acadêmico. Para ser imortal, a criatura deve se rebaixar, aguentar a soberba dos velhinhos acadêmicos e demonstrar submissão. Na minha academia, baixei um decreto que resolve essa parada: antes de morrer conforme as regras naturais, o acadêmico indica seu sucessor. É a meritocracia misturada com relacionamento pessoal, evitando as tais eleições vexantes. Não se corre o risco de se escolher elementos grosseiros, de pouca instrução, sem noção formal da arte que diz representar. Fundando a primeira academia, Machado de Assis fez questão de ressaltar que a instituição deveria ser um lugar de “boas companhias”. E haja discriminação. Segregação dos chatos, maçantes e estúpidos.

Antes de expirar, talvez eu venha a criar uma Maçonaria própria. Conta a história que fui convidado para entrar numa Loja Maçônica. Passei na peneira, comprei o terno preto, mas na hora agá faltou recurso para a “joia” da iniciação e a festa. O quase maçom estava mais duro que diamante. Grandes profetas anunciaram há milhares de anos meu fracasso na tentativa de entrar numa “Respeitável Loja”, excetuando a loja do respeitável Inácio Ramos Cavalcante, a “Barateira”, que foi a miscelânea da cidade de Itabaiana, vendendo de chapéu Ramenzonni a rádio Phillips, estabelecimento nascido dos patacões de uma botija que o pai de Damião Ramos Cavalcante arrancou do quintal de dona Moça, em Pilar, segundo inconfidência do escritor José Augusto de Brito. (“Pilar” – Editora Ideia – Pg. 95). Para conhecer os “Segredos das Pirâmides” sem gastar muito, fundarei minha Maçonaria onde já entrarei como Mestre, pulando o grau de Aprendiz. Vai ter golpe.

Por-Fábio Mozart

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