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(Crédito: Ueslei Marcelino)

Por  Carlos José Marques

Será que não basta? Alguém ainda tem alguma dúvida do estrago, das consequências e das intenções terríveis para a Nação e para a democracia de um mandatário golpista conspirando diariamente no Planalto? Não é possível tanta tolerância, conivência e indulgência com o festival de crimes que esse senhor vem praticando sem a devida punição. Sim, ele esta cometendo CRIMES de responsabilidade à luz do dia, para quem quiser ver e ouvir. Sequestrou a data cívica do Sete de Setembro, na qual o País tradicionalmente comemora a sua independência, para armar um circo golpista no qual apontou, com todas as letras, que não irá mais seguir a Lei. Afrontou ministro do Supremo chamando-o de canalha. Incitou os áulicos convertidos fiéis a confrontarem os poderes da República. Jair Bolsonaro quer o caos e a desordem institucional do Brasil. Por que, na regra e no devido instrumento da eleição, sabe que não vai conseguir manter-se no cargo por novo mandato, como sonhava. Senhores do Estado, legalistas, cidadãos em geral, acordem para o perigo em andamento. Bolsonaro conspira. Não irá cessar no intento de uma aventura totalitária. Como ele pode continuar na cadeira de comando levando adiante esse ímpeto cesarista? Quais razões os tais aliados venais irão invocar para manter a encenação de uma normalidade operacional que deixou de existir por aqui? O presidente não governa. Sabota. Não obedece mais aos preceitos e regramentos da Carta Magna que jurou cumprir. Esquematiza ardis autoritários como um déspota, que imagina não ter de prestar contas ou satisfação a ninguém. Bolsonaro maquina a arapuca da ditadura. Tirânico, arrivista, montado em um populismo tacanho para arregimentar massas de adeptos iludidos, parte para o tudo ou nada. Das ameaças, dos esquemas podres de compra de apoios a sua causa liberticida. Sem freios ou contrapesos. Os brasileiros parecem condenados a aceitar, à revelia da própria vontade, um caudilho desequilibrado, atentando diariamente contra o Estado de Direito, a Constituição e a democracia — essa conquistada a duras penas, após décadas de um regime abominável e usurpador das liberdades.

Magistrados do Supremo, parlamentares, agentes da sociedade civil organizada, juízes, generais das Forças Armadas, demais autoridades, deem um basta nesse facínora imoral e anarquista, que jamais pensou no bem geral do povo e adotou o desvio de conduta como princípio. Não é razoável aceitar e assistir a essa loucura institucional sem fim, com desrespeitos legais, injúrias e desacatos a granel. Até quando? O mandatário está completamente fora de si. Qualquer um percebe. Aloprado, tomado pela prepotência e sede reacionária, pelo radicalismo extremo e sem controle. A cientista política Ilona Szabó, em um antológico chamamento a favor do resgate da cidadania e dos fundamentos republicanos, convocou estadistas a apresentarem, com urgência, uma resposta firme e efetiva a tantos desmandos, que esgarçam os limites da civilidade brasileira por inação, omissão e cumplicidade de alguns poucos agentes da Casa-Grande — esses sempre à busca de se locupletarem nas barras do manda-chuva da vez. É preciso restabelecer o bom-senso, o equilíbrio. E não há outro caminho que não o da abertura imediata de um processo de impeachment. Absolutamente justificável, inadiável, movido pelo tsunami de provas e evidências acumuladas até aqui. O presidente, definitivamente, não reúne mais as mínimas condições para prosseguir no posto. Quebrou com os fundamentos da decência administrativa na vida pública, para a perplexidade e estupor inclusive dos que nele votaram. Aos olhos do mundo, e mesmo internamente, é tido como um dos mais perigosos chefes de Estado do planeta. Deixou o Brasil de joelhos, vergado pelo atraso e desmonte da estrutura no campo social, político e econômico, indo rumo à bancarrota e montado numa crise sanitária que, de maneira implacável, castiga a população. É preciso restaurar a figura do líder equilibrado, coerente e disposto a encarar, de frente, os reais problemas que se apresentam. Alguém que finalmente governe. Não gere medo e insegurança. Sicários, levados pelo comandante cujo único intuito é o da algazarra, tentaram por esses dias, na marra, invadir prédios públicos para depor autoridades desafetas. É uma vergonha que o impedimento do maior aliciador dessa tropa ainda não esteja em andamento. Os descalabros não param. Em prol do bem geral e a favor da própria hombridade da política, é mister iniciar o processo de impeachment daquele que hoje está aboletado no Palácio do Planalto. Há um entendimento quase global nesse sentido. Políticos, parlamentares e chefes de governo de ao menos 27 países divulgaram uma carta aberta denunciando que o Brasil vem vivendo uma ameaça clara de “insurreição” antidemocrática. Nossos representantes do Legislativo e do Judiciário vão continuar fechando os olhos a isso? É a imagem que queremos deixar firmada no mundo? O ex-presidente Michel Temer, que habilidosamente costura um novo formato de planejamento por ele batizado de “Ponte para o Futuro 2”, apontou que, “antes de pacificar o País, há de se pacificar Bolsonaro”. E qual a única maneira de se fazer isso? Retirando dele os instrumentos que lhe permitem seguir delinquindo. De uma vez por todas é preciso que fique evidente: o propalado “mito” Messias não irá mudar, ceder ou se adequar à missão constitucional que lhe cabe. Antes, afirmou de viva voz, prefere “enquadrar” quem lhe contraria.

Como bem disse o presidente do STF, ministro Luiz Fux, quem promove o discurso do “nós contra eles” propaga apenas o caos. E é por isso mesmo que não dá mais para seguir nessa toada. “Povo brasileiro, não caia na tentação das narrativas fáceis e messiânicas, que criam falsos inimigos”, apelou o magistrado, alegando que a Suprema Corte “jamais aceitará ameaças à sua independência nem intimidações ao exercício regular de suas funções”. Mas a tolerância às bravatas nesse sentido ainda é enorme. Os autointitulados “verdadeiros patriotas” desconsideram o alcance das maquinações de Bolsonaro. Fazem pouco caso delas, talvez por comodismo ou receio dos contra-ataques.

E nesse cabo de força oscila o destino inglório daqueles que sofrem com problemas reais e intransponíveis como a fome, a doença, o desemprego, a falência, o desarranjo social e a falta de perspectiva. A turma do deixa disso precisa demover do horizonte as armadilhas golpistas, sem cumplicidade com os ilícitos ou desdenho pelo desespero geral de quem clama por uma saída. Dando nome aos bois: que o presidente da Câmara dos Deputados, o aliado ocasional do Executivo, Arthur Lira, exerça a missão que lhe é devida e nacionalmente almejada de colocar em pauta um dos inúmeros processos de impeachment. Tome a decência de se apresentar como um democrata perante a sociedade, sob pena de macular irremediavelmente a própria reputação. É preciso fulanizar, responsabilizar e punir aquele que tenta transformar o Brasil em um manicômio fora da lei para consagrar seus mais recônditos projetos de arbitrariedade e genocídio.


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