(Crédito: Ueslei Marcelino)
Será que não basta? Alguém ainda tem alguma dúvida do
estrago, das consequências e das intenções terríveis para a Nação e para a
democracia de um mandatário golpista conspirando diariamente no Planalto? Não é
possível tanta tolerância, conivência e indulgência com o festival de crimes
que esse senhor vem praticando sem a devida punição. Sim, ele esta cometendo
CRIMES de responsabilidade à luz do dia, para quem quiser ver e ouvir.
Sequestrou a data cívica do Sete de Setembro, na qual o País tradicionalmente comemora
a sua independência, para armar um circo golpista no qual apontou, com todas as
letras, que não irá mais seguir a Lei. Afrontou ministro do Supremo chamando-o
de canalha. Incitou os áulicos convertidos fiéis a confrontarem os poderes da
República. Jair Bolsonaro quer o caos e a desordem institucional do Brasil. Por
que, na regra e no devido instrumento da eleição, sabe que não vai conseguir
manter-se no cargo por novo mandato, como sonhava. Senhores do Estado,
legalistas, cidadãos em geral, acordem para o perigo em andamento. Bolsonaro
conspira. Não irá cessar no intento de uma aventura totalitária. Como ele pode
continuar na cadeira de comando levando adiante esse ímpeto cesarista? Quais
razões os tais aliados venais irão invocar para manter a encenação de uma
normalidade operacional que deixou de existir por aqui? O presidente não
governa. Sabota. Não obedece mais aos preceitos e regramentos da Carta Magna
que jurou cumprir. Esquematiza ardis autoritários como um déspota, que imagina
não ter de prestar contas ou satisfação a ninguém. Bolsonaro maquina a arapuca
da ditadura. Tirânico, arrivista, montado em um populismo tacanho para
arregimentar massas de adeptos iludidos, parte para o tudo ou nada. Das
ameaças, dos esquemas podres de compra de apoios a sua causa liberticida. Sem
freios ou contrapesos. Os brasileiros parecem condenados a aceitar, à revelia
da própria vontade, um caudilho desequilibrado, atentando diariamente contra o
Estado de Direito, a Constituição e a democracia — essa conquistada a duras
penas, após décadas de um regime abominável e usurpador das liberdades.
Magistrados do Supremo, parlamentares, agentes da sociedade
civil organizada, juízes, generais das Forças Armadas, demais autoridades, deem
um basta nesse facínora imoral e anarquista, que jamais pensou no bem geral do
povo e adotou o desvio de conduta como princípio. Não é razoável aceitar e
assistir a essa loucura institucional sem fim, com desrespeitos legais,
injúrias e desacatos a granel. Até quando? O mandatário está completamente fora
de si. Qualquer um percebe. Aloprado, tomado pela prepotência e sede
reacionária, pelo radicalismo extremo e sem controle. A cientista política
Ilona Szabó, em um antológico chamamento a favor do resgate da cidadania e dos
fundamentos republicanos, convocou estadistas a apresentarem, com urgência, uma
resposta firme e efetiva a tantos desmandos, que esgarçam os limites da
civilidade brasileira por inação, omissão e cumplicidade de alguns poucos
agentes da Casa-Grande — esses sempre à busca de se locupletarem nas barras do
manda-chuva da vez. É preciso restabelecer o bom-senso, o equilíbrio. E não há
outro caminho que não o da abertura imediata de um processo de impeachment.
Absolutamente justificável, inadiável, movido pelo tsunami de provas e evidências
acumuladas até aqui. O presidente, definitivamente, não reúne mais as mínimas
condições para prosseguir no posto. Quebrou com os fundamentos da decência
administrativa na vida pública, para a perplexidade e estupor inclusive dos que
nele votaram. Aos olhos do mundo, e mesmo internamente, é tido como um dos mais
perigosos chefes de Estado do planeta. Deixou o Brasil de joelhos, vergado pelo
atraso e desmonte da estrutura no campo social, político e econômico, indo rumo
à bancarrota e montado numa crise sanitária que, de maneira implacável, castiga
a população. É preciso restaurar a figura do líder equilibrado, coerente e
disposto a encarar, de frente, os reais problemas que se apresentam. Alguém que
finalmente governe. Não gere medo e insegurança. Sicários, levados pelo
comandante cujo único intuito é o da algazarra, tentaram por esses dias, na
marra, invadir prédios públicos para depor autoridades desafetas. É uma
vergonha que o impedimento do maior aliciador dessa tropa ainda não esteja em
andamento. Os descalabros não param. Em prol do bem geral e a favor da própria
hombridade da política, é mister iniciar o processo de impeachment daquele que
hoje está aboletado no Palácio do Planalto. Há um entendimento quase global
nesse sentido. Políticos, parlamentares e chefes de governo de ao menos 27
países divulgaram uma carta aberta denunciando que o Brasil vem vivendo uma
ameaça clara de “insurreição” antidemocrática. Nossos representantes do
Legislativo e do Judiciário vão continuar fechando os olhos a isso? É a imagem
que queremos deixar firmada no mundo? O ex-presidente Michel Temer, que
habilidosamente costura um novo formato de planejamento por ele batizado de
“Ponte para o Futuro 2”, apontou que, “antes de pacificar o País, há de se
pacificar Bolsonaro”. E qual a única maneira de se fazer isso? Retirando dele
os instrumentos que lhe permitem seguir delinquindo. De uma vez por todas é
preciso que fique evidente: o propalado “mito” Messias não irá mudar, ceder ou
se adequar à missão constitucional que lhe cabe. Antes, afirmou de viva voz,
prefere “enquadrar” quem lhe contraria.
Como bem disse o presidente do STF, ministro Luiz Fux, quem
promove o discurso do “nós contra eles” propaga apenas o caos. E é por isso
mesmo que não dá mais para seguir nessa toada. “Povo brasileiro, não caia na
tentação das narrativas fáceis e messiânicas, que criam falsos inimigos”,
apelou o magistrado, alegando que a Suprema Corte “jamais aceitará ameaças à
sua independência nem intimidações ao exercício regular de suas funções”. Mas a
tolerância às bravatas nesse sentido ainda é enorme. Os autointitulados
“verdadeiros patriotas” desconsideram o alcance das maquinações de Bolsonaro.
Fazem pouco caso delas, talvez por comodismo ou receio dos contra-ataques.
E nesse cabo de força oscila o destino inglório daqueles que
sofrem com problemas reais e intransponíveis como a fome, a doença, o
desemprego, a falência, o desarranjo social e a falta de perspectiva. A turma
do deixa disso precisa demover do horizonte as armadilhas golpistas, sem
cumplicidade com os ilícitos ou desdenho pelo desespero geral de quem clama por
uma saída. Dando nome aos bois: que o presidente da Câmara dos Deputados, o
aliado ocasional do Executivo, Arthur Lira, exerça a missão que lhe é devida e
nacionalmente almejada de colocar em pauta um dos inúmeros processos de
impeachment. Tome a decência de se apresentar como um democrata perante a
sociedade, sob pena de macular irremediavelmente a própria reputação. É preciso
fulanizar, responsabilizar e punir aquele que tenta transformar o Brasil em um
manicômio fora da lei para consagrar seus mais recônditos projetos de
arbitrariedade e genocídio.