Resta
sublinhar as vozes e imagens da internet, notável por manter aquele padrão de
jornalismo de estagiário, precário e, o mais das vezes, preconceituoso. E
ridículo, sempre. O que rolou nesta semana, além das ações desastradas e canhestras
do “comandante” das forças supérfluas, vale destaque para o quesito “aborto
gospel” a fala de um tal pastor Tupirani da Hora Lores, da Igreja Pentecostal
Geração Jesus Cristo, no Rio de Janeiro. O jornal O Globo publicou reportagem sobre rajada de verbalismo intolerante
do tal pastor. Racismo e homofobia no seu estágio mais sórdido. O discurso de Lores foi feito em resposta
ao pedido de desculpas da pregadora Karla Cordeiro, a Kakau, da Igreja Sara
Nossa Terra. Ela havia dito para os fiéis pararem de “ficar postando coisa de gente preta, de gay”. Após a repercussão do vídeo e da abertura de um
inquérito policial, Kakau publicou uma nota de retratação. O pastor Tupirani
respondeu à pregadora: “Sabe o que você é, Karla Cordeiro? Você é uma puta, uma
prostituta, seu pastor deve ser um veado e a sua igreja toda é uma igreja de
prostitutas. Vocês não são evangélicos. Malditos sejam vocês, que a garganta de
vocês apodreça por terem ousado tocar no nome de Jesus, raça de putas e
piranhas, é isso que vocês são. A igreja de Jesus Cristo não levanta placa de
filho da puta negro nenhum, não levanta placa de filho da puta de político, não
levanta placa de filho da puta de veado. A igreja de Jesus Cristo só levanta a
sua própria placa”.
Peço a indulgência dos meus raros leitores por
transcrever tamanha sujidade, mas é que fiquei com uma exasperação dos diabos
diante da agressividade do pastor e porque precisei mesmo preencher espaço
vazio nesta crônica sem entusiasmo e pobre de ideia. Lamentável, ambos os
fatos: minha pouca inspiração e a manifestação de penúria moral desse pastor
protestante. A sensação é de estarmos encurralados por uma horda de insanos e
aleijados morais sem nenhum escrúpulo, todos enfeitados com medalhas, cruzes,
bandeiras verde-amarelas, tanques, canhões, carrões, insígnias e estandartes da
idade média, “pelas ruas marchando indecisos cordões”.
Faço um personagem no programa de humor chamado
“Rádio Barata”, o Cão Canjiquinha, um diabo perdido no meio de um inferno
esculhambado, repleto de gente burra, sem a mínima noção da realidade que o
cerca. O Cão Canjiquinha faz parte dessa possessão coletiva de forças do mal
travestidas de cristãos, patriotas e salvadores de uma suposta pátria, cujo
território farpado é insensatamente defendido por cães de guarda sem cérebro.
Meu temor: ter que vestir uma camisa verde-amarela no dia 7 de setembro como
salvo conduto. Terreno minado da cidadania manchada de segregacionismo.
O Cão Canjiquinha perdeu a paciência com a vil
humanidade e passou a ter um comportamento antissocial. Chegou a ignorar a
higiene bucal para adquirir mau hálito e caprichar no fedor de enxofre com
ingestão generosa de alho e cebola. Lidar com essa realidade estranha não é
tarefa simples. Nem mesmo para o Filho das Trevas. Trauteando toada do cantor
Botika, Canjiquinha avisa para a família cristã: “Alguém vai sair machucado
daqui”.