Em um ano e meio de governo, quatro nomes passaram pela pasta. Entre críticas a brasileiros e falsificação de currículos, atuação de ministros são impróprias
(crédito: Carlos Vieira/CB)
Por Fábio Grecchi/Maria Eduarda Cardim
A opinião, exposta durante entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, se soma ao longo rol de tumultos promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro no MEC — que já teve um ministro colombiano naturalizado brasileiro que criticou os brasileiros, outro que pretendeu rebater acusações parodiando a dança de Gene Kelly em Singing In The Rain e até mesmo um que durou cinco dias no cargo e foi derrubado por ostentar falsos títulos acadêmicos. Para piorar, foram quatro titulares da pasta em um ano e meio de governo.
O primeiro da lista de confusões foi o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez, que assumiu já tendo de enfrentar a guerrilha olavista que pretendia tomar conta da máquina administrativa do MEC. Mas, numa tentativa de pacificação com a facção, anunciou uma revisão nos livros didáticos para reformular como a ditadura militar e o golpe de 1964 são retratados aos estudantes.
Em mais um aceno aos olavistas, pediu às escolas de todo o Brasil que gravassem os alunos cantando o Hino Nacional e que fosse lida uma carta com o slogan eleitoral de Bolsonaro — “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Recuou das iniciativas depois da tempestade de críticas, mas não se calou. Numa entrevista a um semanário, analisou de forma preconceituosa seus compatriotas.
“O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisa dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião, ele acha que pode sair de casa e carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola”, disse.
Foi demitido e substituído por Abraham Weintraub, dono de imenso apetite para a confusão. Além de afirmar que as universidades públicas eram um “antro de maconheiros” e uma “balbúrdia”, não se furtava em aparecer em situações constrangedoras. Tal como quando postou no Twitter uma suposta paródia de Gene Kelly no clássico do cinema Singing in The Rain para rebater a acusação de que reduzira as verbas destinadas à recuperação do Museu Nacional — totalmente destruído num incêndio em 2017.
A gota d’água, porém, veio depois que chamou os ministros do Supremo Tribunal Federal de “vagabundos”, na já histórica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, e quando “denunciou” um suposto plano chinês de dominação do mundo pós-pandemia de covid-19. Foi denunciado na Justiça por racismo, incluído no inquérito das fake news do STF e, a seguir, dispensado.
Sucedido pelo professor e economista Carlos Decotelli, pensava-se que o MEC entraria numa rota de serenidade. Mas, em poucas horas, procuradas pela imprensa para a confirmação dos títulos acadêmicos, as universidades de Rosário (Argentina) e de Wüppertal (Alemanha) negaram que ele tivesse o doutorado e o pós-doutorado que registrou no Currículo Lattes. Ficou “no cargo” apenas cinco dias e sequer foi nomeado.
Depois de Decotelli, o pastor evangélico Milton Ribeiro — doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e ex-reitor da Universidade Mackenzie — assumiu o MEC. A precedê-lo, porém, havia vídeos de cultos que presidiu nos quais culpou a linha existencialista ensinada em universidades pela “prática totalmente sem limites do sexo” — algo que também seria estimulado, segundo ele, pelos métodos contraceptivos.
Além disso, Ribeiro defendeu que as agressões façam parte da educação das crianças porque considera ser a inocência delas “relativa”. Outra posição que externou, mas relacionada aos tempos de antes do MEC, é que “quando o homem não impõe a direção que a família vai tomar” a porta fica aberta aos desvios.
As incômodas opiniões de Ribeiro
(Colaboraram Gabriela Bernardes* e Luiza Victorino*, estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi).