Maria Ângela de Faria
Grillo é doutora em História, pela Universidade
Federal Fluminense e École des Hautes Études em Sciences Sociales. Integra o
corpo docente do Curso de Licenciatura e do Curso de Mestrado em História da
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Ela escreveu o livro “A arte do povo
na literatura de cordel”, onde afirma que “o cordel é como uma janela aberta
para se investigar outras visões e outras versões das narrativas históricas”.
Publiquei esta citação na contracapa do meu folheto “Chegada de Bob
Motta no céu de Adele”, sobre a morte da esposa do meu amigo poeta Bob Motta,
autor de 230 folhetos, também já falecido. Roberto Coutinho da Motta nasceu em
Natal, Rio Grande do Norte, mas passou a mocidade no sertão da Paraíba, no
Cariri de Cabaceiras, Boqueirão, Serra do Monte, Pocinhos, Grado Bravo e outras
quebradas. Sua poesia tem a fala do caipira da gema, influenciado por Zé da Luz
e Catulo da Paixão Cearense.
No verso metrificado,
contei a viagem de sonho que Bob Motta fez ao céu para rever seu grande amor,
em folheto que trata de dois temas quase inéditos no meu trabalho com
literatura de cordel: divindade cristã e afeições de amantes. Este folheto
circulou em vários espaços de cultura na capital potiguar. Os familiares de Bob
levaram meu cordel para o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão e outras
instituições da terra de Câmara Cascudo, o maior folclorista de todos os
tempos, grande amigo de Bob Motta. Algumas sextilhas do folheto:
Entre astros e estrelas
Bob Motta procurou
A sua querida Adele
Nos sete céus encontrou
Em bela senda florida
Sua alma penetrou
Porque poeta não morre
Apenas muda de plano
Muito acima da visão
Precária do ser humano
Terra não comensurável
No santo meridiano
Em arco bem curvilíneo
Onde se lia o letreiro:
“Bem-vindo seja o poeta
Do Nordeste brasileiro
Com a viola matuta
E seu cantar altaneiro”
Eis, porém, mais que ligeiro,
Surge um ser que o deixa mudo
Na comitiva de frente
Vem o Câmara Cascudo
Folclorista de Natal
Que foi seu mestre em
tudo.
Cascudo abraça o poeta
Na aura misteriosa
Tendo na mão um livrinho
Na outra mão uma rosa
Convidando para um chá
E dois dedinhos de
prosa
Mas o anjo diligente
Voou pela imensidão
Do tempo/espaço celeste
Pra fazer a narração
De como Bob encontrou
Sua mais forte
paixão.
Isso se deu no Salão
Da Espiritualidade
Onde as almas se encontram
Quando têm afinidade
Em seus pendores e instintos
Conforme a Grande
Verdade.
E segue a trajetória de Bob Motta em busca de
sua alma gêmea no plano espiritual, neste folheto que passou a fazer parte do
acervo do projeto “Encanta cordel”, patrocinado
pelo Fundo Nacional de Cultura, através do Instituto Cultural Vale. Este e
outros cordéis de poetas paraibanos serão distribuídos em escolas públicas da
Paraíba, Pernambuco e Maranhão. Pedidos para o meu e-mail:
mozartpe@gmail.com
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