Apesar das críticas, ela minimizou a responsabilidade do Congresso, ao salientar que a gestão do orçamento secreto fica nas mãos de dois parlamentares
Por Fernanda Trisotto — Brasília
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata à presidência
da República, afirmou ontem considerar que o orçamento secreto pode ser o maior
esquema de corrupção do Brasil. Ela ainda disse ter sido “a maior vítima” do
mecanismo que privilegia aliados do Palácio do Planalto no repasse de recursos
públicos, porque, na sua avaliação, perdeu a eleição para a presidência do
Senado, no início de 2021, por causa da distribuição deste tipo de recurso a
apoiaodores de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Manobra contra Tebet: Ação na Justiça eleitoral pede
adiamento da convenção do MDB
O orçamento secreto,
por ser secreto e não transparente e não vir um programa de planejamento
programas metas e resultados, dá nisso: dá nesse esquema de corrupção — afirmou
na noite desta segunda-feira em entrevista ao Central das Eleições, da
GloboNews.
Para fazer a comparação, Tebet citou valores atribuídos a
outros escândalos de corrupção, especialmente das gestões petistas, como o
mensalão, com valor de R$ 160 milhões, e do petrolão, com pelo menos R$ 2,3
bilhões.
Quanto nós estamos
falando do orçamento secreto? Nós estamos falando só agora de algo em torno de
R$ 44 bilhões, sendo R$ 28 bilhões já executado. Então nós podemos estar diante
do maior esquema de corrupção da história da república brasileira — afirmou.
Apesar das críticas, ela minimizou a responsabilidade do
Congresso ao dizer que a gestão do orçamento secreto fica nas mãos de poucos
parlamentares, embora tenha evitado nominá-los.
Não existe espaço vazio na política. O Congresso sequestrou esse orçamento, e não é culpa do Congresso. É culpa de um governo que não sabe para onde vai e não sabe o que fazer com o dinheiro que tem.
Unificação do MDB
Em relação às resistências que tem sofrido no MDB em torno da
sua candidatura, Tebet minimizou os atritos internos do partido e que a
tendência é ter seu nome aprovado na convenção marcada para quarta-feira.
Nós estamos falando do
maior partido do Brasil o mais democrático que sabe respeitar as
regionalidades. Ela acrescentou: — Temos absoluta tranquilidade que mais do que
70% dos delegados vão votar conosco.
Ela reafirmou que na convenção de quarta-feira estará clara a
unidade do partido, em torno da sua candidatura, apesar das investidas de
algumas alas que judicializaram a realização da convenção. Independentemente do
resultado da convenção, afirmou que não sairá da sigla.
Tebet ainda disse que parte da resistência em relação ao seu
nome está sendo levantada por correligionários que têm ligação muito próxima ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive ocupando ministérios em
governos do petista.
Tebet afirmou que sua candidatura será oficializada e resolvida em “48 horas”, e que uma vez homologada a candidatura, ela não vai retirá-la, porque será candidata do MDB, do PSDB e do Cidadania, que formam uma federação partidária e fecharam apoio em torno de seu nome
Questionada sobre se o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)
será seu vice, ela disse que isso depende do PSDB, mas que ele mesmo já
garantiu que estará com ela no palanque de alguma forma:
Ou como vice, ou no
palanque, ou como coordenador político da nossa campanha.
Erradicar a fome
A candidata também disse que o Brasil pode sair do mapa da
fome e erradicar a miséria, desde que empregue melhor os recursos do orçamento.
Para isso, aposta em um mix de ações, que passam por uma transferência de renda
permanente, mas com porta efetiva de saída mirando a qualificação dos
beneficiários para o mercado de trabalho, e a recriação do ministério do
planejamento e orçamento, para que o Executivo volte a dominar o orçamento
federal.
Com um discurso bastante emocional, evocando sua condição de
mulher e mãe, Tebet disse que não pode admitir que o país tenha voltado ao mapa
da fome, e que para sair dessa realidade a única solução é uma transferência de
renda permanente:
Quem tem fome, tem
pressa. Como medida de curto prazo, não tem saída: é transferência de renda
permanente, e é possível mesmo com responsabilidade fiscal garantir essa
transferência de renda permanente para todos os que precisam, com escala
diferenciada. É preciso diferenciar os miseráveis dos pobres no Brasil e com
isso com o piso nós podemos a partir daí garantir essa proporcionalidade dessa
transferência de venda.
Apesar de não fazer referência aos valores de pagamento, a
senadora fala do Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família e foi
criado sob medida para pretensões eleitorais do atual presidente Jair
Bolsonaro. O programa paga um benefício de R$ 400 para qualquer família,
independentemente da composição. Recentemente, com a aprovação da PEC
Eleitoral, que instituiu um estado de emergência para driblar regras fiscais e
eleitorais e permitir ao governo gastar mais R$ 41,2 bilhões com benefícios a
três meses da eleição, o valor do auxílio aumentou de R$ 400 para R$ 600.
Questionada sobre a razão de ter votado a favor da PEC — no
Senado, apenas José Serra (PSDB-SP) foi contra —, Tebet resumiu:
Sou mãe, não posso
permitir que não chegue imediatamente para as famílias brasileiras que tem seus
filhos passando fome.
Congresso
Tebet ainda falou sobre a atuação do Congresso em pautas com
temática de agronegócio e meio ambiente, como é o caso do PL do Veneno, e sobre
o marco temporal. De acordo com a senadora, ela discorda desse pacote de
propostas da maneira como está apresentado, e reiterou que é preciso planejar
um futuro de economia verde e desenvolvimento sustentável, aliando a produção
agrícola e meio ambiente. Na área ambiental, também demonstrou preocupação com
o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
A senadora disse que, se eleita, suas prioridades seriam
aprovar reformas nos primeiros seis meses. A prioritária é a tributária, e
elogiou o texto que tramita no Congresso, por ter obtido concordância em um
tema difícil. Também sinalizou como prioridade a administrativa, mas criticou a
proposta que empacou na Câmara.