POR-VERA MAGALHÃES
Fernando Bezerra e opositores confraternizam no Senado | Agência SenadoQuando historiadores forem analisar o governo Jair Bolsonaro,
um dos fatores sobre o qual terão de se debruçar é o fato de como a
incompetência extrema do presidente e de seus auxiliares é constantemente
premiada com colheres de chá que acabam por premiar a falta de planejamento.
A aprovação de afogadilho de um enorme cheque em branco
eleitoral para o presidente distribuir grana viva às vésperas da eleição, ao
arrepio flagrante da Constituição, da lei eleitoral, da Lei de Responsabilidade
Fiscal e do teto de gastos é só a mais recente dessas incompreensíveis ajudas
que Bolsonaro, mesmo deixando claras suas piores intenções, consegue receber de
todos, inclusive da oposição.
Foi assim com a PEC que promoveu a pedalada descarada nos
precatórios, que nada mais são que dívidas transitadas em julgado; com a mais
recente emenda que promoveu uma tunga no ICMS de Estados e municípios apenas
para conter o faniquito do presidente para baixar o preço dos combustíveis de
forma terceirizada, e que, como previsto não foi efetiva; com as sucessivas e
inimagináveis intervenções na direção da Petrobras, que acontecem sem que
ninguém tente impedir, entre outros episódios recentes e mais remotos.
Agora o Senado acaba de dar lastro ao desespero eleitoral de
Bolsonaro, fornecendo a ele uma vantagem econômica absurda em relação aos
adversários. Como cria uma narrativa chantagista de que se trata de combater a
fome, a insegurança alimentar e a perda de renda provocada com a inflação —
como se todos esses flagelos reais não fossem obra continuada justamente da
inoperância do governo e de sua capacidade de planejar medidas de longo prazo —
o governo consegue fazer com que um
rombo de R$ 40 bilhões para promover benesses eleitoreiras seja aprovado
praticamente por unanimidade, com beneplácito inclusive do PT.
É uma condescendência inédita, que pode vir a se mostrar um
erro político fatal. Qual a segurança que os partidos que se dizem opositores
aos arbítrios de Bolsonaro têm de que incluir milhares de beneficiários de um
auxílio turbinado artificialmente justamente no período eleitoral não vai
resultar, sim, em crescimento das intenções de voto no presidente?
A curva da popularidade de Bolsonaro enquanto pessoas morriam
diariamente na casa do milhar no auge da pandemia subiu, justamente porque o
auxílio emergencial foi injetado na veia dos mais pobres.
Introduzir na disputa eleitoral tamanho instrumento de abuso
de poder econômico é uma irresponsabilidade que o Legislativo comete, cooptado
pela mensagem populista de que existe uma emergência hoje, como se a Guerra da
Ucrânia não tivesse sido deflagrada há meses, como se a inflação não consumisse
a renda dos brasileiros fortemente desde o ano passado, mais acentuadamente.
Bolsonaro nunca reconheceu de público o fato de que o Brasil
voltou ao mapa da fome. Justamente porque isso é um atestado da falência de seu
governo em promover o mínimo de equidade social.
O PT e os demais partidos de oposição, não é a primeira vez
que assinalam, parecem dar Bolsonaro como cachorro morto. Alguém que se lança
de forma tão despudorada em um vale-tudo eleitoral não pode ser desconsiderado.
Ele não está, sequer, disposto a reconhecer a derrota caso ela seja confirmada
nas urnas. Isso mostra o que está resoluto a perpetrar até lá. Sempre com um
empurrãozinho de quem deveria justamente pará-lo.