O ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto em março de 2022 | Cristiano Mariz/Agência O Globo
O general Walter Braga Netto (PL), pré-candidato a vice de Jair
Bolsonaro na chapa em que ele disputará a reeleição, deixou empresários
constrangidos num encontro da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, na
semana passada, ao falar sobre a disputa entre o bolsonarismo e o TSE em torno
das urnas eletrônicas.
Empresários relataram à equipe da coluna que Braga Netto afirmou que se
não for feita a auditoria dos votos defendida pelo presidente, “não tem
eleição”. À equipe da coluna, a assessoria de imprensa de Braga Netto afirmou
que não houve ameaças, que sua fala foi tirada de contexto e mal interpretada
pelas fontes (leia nota abaixo).
A fala de Braga Netto se deu na última sexta-feira (24), dois dias
antes de ele ser oficializado vice. E causou constrangimento entre os
empresários selecionados a dedo pela federação empresarial para um discreto
encontro dedicado oficialmente à apresentação de pleitos do Rio ao
"assessor especial da presidência da República".
Longe da imprensa e frente a uma audiência em tese simpática, Braga
Netto se soltou e repetiu a narrativa infundada de Bolsonaro sobre a segurança
da urna eletrônica - ao contrário do que diz o presidente, os votos no Brasil
são auditáveis.
Segundo relatos colhidos pela equipe da coluna, houve um incômodo
silêncio após a declaração. O militar da reserva, que foi exonerado hoje do
governo para disputar as eleições, estava acompanhado do ex-ministro da Saúde
Eduardo Pazuello, pré-candidato a deputado federal pelo PL.
Braga Netto recebeu de estrategistas de Bolsonaro a missão de ajudar na
arrecadação de recursos para a campanha.
A previsão da cúpula é que ele se dedique a viajar pelos estados onde
estão os principais doadores.
A visita ao Rio se deu em razão da proximidade com o empresariado
fluminense desde o período em que foi interventor federal no estado, durante o
último ano do governo Temer, em 2018.
A insistência na ameaça de ruptura com base em teses conspiratórias
coincide com a onda de notícias ruins que se abateu contra o governo Bolsonaro
nas últimas semanas.
Além da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, o Palácio do
Planalto se vê diante da suspeita de interferência do presidente na Polícia
Federal, a piora dos índices econômicos e a estagnação do presidente no último
Datafolha. O escândalo que derrubou Pedro Guimarães da presidência da Caixa
Econômica, que eclodiu na última terça-feira, somou-se à lista nos últimos
dias.
No início do mês, o próprio presidente aproveitou sua passagem pelo Rio
para disparar ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao sistema eleitoral
durante reunião com a Associação Comercial fluminense.
Em julho de 2021, reportagem do Estado de S. Paulo relatou que Braga
Netto teria feito a mesma ameaça ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
por meio de emissários.
À época, tanto Lira quanto o general da reserva foram cobrados pelo
então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso,
pela suposta declaração. Ambos negaram que o diálogo tenha ocorrido, e o jornal
reiterou o teor da reportagem.
O texto da reportagem foi
alterado para incluir esclarecimentos enviaqdos pela assessoria de imprensa do
general Braga Netto. Segue íntegra da nota enviada à coluna:
Braga Netto não afirmou, durante encontro com empresários na FIRJAN,
que sem auditoria do sistema eleitoral não haverá eleições. Houve uma má
interpretação ou entendimento fora do contexto do interlocutor.
Diversas Instituições, entre elas o MJSP e o MD, sob a coordenação do
TSE têm adotado as medidas propostas para aperfeiçoar a transparência e a
segurança do processo eleitoral.
A auditagem já está prevista em lei. Em sua fala, Braga Netto apenas
reafirmou a importância desse instrumento para que a confiança no sistema
eleitoral seja fortalecida.

Com
