Governo Bolsonaro conseguiu o que queria: gerar crescimento antes das eleições de outubro. Para o país, ficará a conta em juros, inflação e PIB mais fraco no ano que vem (Por Alvaro Gribel)
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O governo Bolsonaro foi bem-sucedido em empurrar a crise econômica para depois das eleições. Se isso será suficiente para virar o jogo, ninguém sabe, mas já é certo que as medidas para estimular o crescimento e conter a inflação no curtíssimo prazo deixarão uma herança maldita para o próximo presidente. Esse cenário já se reflete em vários indicadores de mercado. As projeções de crescimento para 2023 se aproximam de zero. Para a inflação, já passam de 5%. E as estimativas para as contas públicas mostram um aumento contínuo da dívida bruta até 2029. As reformas aprovadas neste governo falharam em melhorar o horizonte: o PIB crescerá pouco nos próximos quatro anos.
O índice de atividade do Banco Central de junho interrompeu dois meses de queda e voltou a subir. Com esses dados, vários economistas revisaram para cima as projeções para o PIB do segundo trimestre e, consequentemente, para o ano. Foi o suficiente para que a equipe econômica reforçasse o discurso de que o país está entrando em um ciclo sustentável de crescimento. A tese é de que o mundo desacelera enquanto o Brasil decola. Mas não é dessa forma que bancos e consultorias consultados pelo Banco Central enxergam o futuro da economia brasileira.
Há um movimento simultâneo nas projeções. O governo gasta mais no curto prazo, com isso o PIB sobe, mas a conta a ser paga no ano que vem fica mais cara, e as estimativas caem. O gráfico ao lado mostra claramente esse efeito, com o cenário se alternando entre os dois anos. Na inflação, acontece a mesma coisa. Se o IPCA de 2022 recuou de 8,92% para 7%, segundo o Focus, para 2023, subiu de 4,45% para 5,38%. Com a inflação mais elevada, também subiram os juros cobrados pelo mercado para financiar o governo, e isso pressiona a dívida bruta, que dará um salto de 79% do PIB este ano, para 87,5%, em 2029.
Expectativa de crescimento do Brasil
Para tentar vencer as eleições, o governo deu estímulos por todos os lados. Pelos cálculos do economista-chefe da corretora BCG Liquidez, Juliano Ferreira, a conta chega a R$ 250 bilhões este ano, entre injeção direta de recursos e redução de impostos. O aumento do Auxílio Brasil, que subiu de R$ 200, em dezembro, para R$ 600, em agosto, é a maior despesa, seguida pelos subsídios aos setores de combustíveis e energia.
Em 2014, a ex-presidente Dilma deu estímulos e segurou preços para se reeleger. Na época, ela não tinha a rejeição que Bolsonaro tem hoje nem estava atrás nas pesquisas. Conseguiu o que queria, em uma eleição apertada, mas a consequência para o país foi uma bomba relógio que explodiu em 2015 e levou a economia a dois anos seguidos de recessão. Bolsonaro segue a mesma cartilha, desta vez com as digitais dos liberais brasileiros da extrema-direita.
Rali dos mercados
Desde 14 de junho, o Ibovespa disparou 18%, saindo dos 96.121 pontos para 113.512. Nos EUA, o rali foi semelhante. O índice Nasdaq subiu 16,45%, o S&P 500, 12%, e o Dow Jones, 11,5%. A queda do petróleo e de outras commodities fez o mercado entender que o pior da inflação ficou para trás no mundo. A notícia de que o Irã pode voltar ao mercado provocou a queda do barril do tipo Brent, ontem, que voltou ao menor nível em seis meses.
Inverno europeu
Enquanto o mundo respira um pouco mais aliviado com a queda do petróleo, na Europa os preços da energia devem provocar uma recessão no próximo inverno. Ontem, o preço do MWh na Alemanha chegou a 505 euros, uma alta de 236% sobre dezembro. A confiança do empresário voltou ao nível de 2011, quando a crise fiscal em países como Portugal e Espanha colocou o euro em xeque. Esse é o efeito do corte de gás à região por Vladimir Putin.
O país dos juros altos
Em tempo: o Tesouro fez novo leilão de títulos públicos ontem e aceitou pagar, até 2060, juros de 5,9% ao ano mais a inflação.